Hatari! Revista de Cinema #05 Ficção Científica | Page 22

personagens. Eles são extremamente cientes do esforço que fazem para que suas vidas continuem normais. Esse esforço contrastado com a paisagem desolada, roupas maltrapilhas, e a visível desilusão no rosto dos personagens enquanto se enganam - descrentes daquilo que estão constantemente tentando se convencer - é o mais triste que um mundo pós-apocalíptico pode ser. É o palhaço que ri com um sorriso no rosto, mas com tristeza nos olhos. Acho interessante a ausência dessa tristeza nos espíritos livres do filme, aqueles que estão apaixonados. Penelope, a filha grávida, e Alan, seu namorado (um rapaz burro como uma porta, mas cuja inocência é algo belo) só entristecem perto do fim, quando tudo piora e a vida que tin- ham com seus pais no metrô já não é mais a mesma. Existe um monólo- go¹ de Penelope que é o que permite acesso a essa segunda camada do filme. É um monólogo belíssimo sobre Alan que acontece quando ele, cansado de andar, descansa sua cabeça no colo dela e fecha os olhos. Ela declama a beleza de sua inocência e de como que, com ele, o que se vê é o que existe. Tudo sobre essa pessoa está ali, na superfície, e isso é lindo. Eis alguém que nunca lhe mentirá. “Stupid as the sun²”. 22 Perto do fim, esse casal começa a ser engolido pela tentativa lunáti- ca de vida britânica que os outros lhe impõem. No fim, essa tentativa se torna impossível e todos os personagens se encontram em condições simplesmente humanas, - carregados apenas do “inglesismo” que lhes é natural - pedindo ajuda para uma voz que acreditam ser Deus (mas não é). A tentativa de serem britânicos que antes escondia a necessidade de serem humanos some e milagrosamente tudo melhora. Todos recebem