Hatari! Revista de Cinema #05 Ficção Científica | Page 23
a notícia de que tudo vai se resolver, gramas começam a crescer, risa-
das são escutadas e até uma nova família é iniciada. Bastava serem hu-
manos. Até os dois policiais do filme, que, por muito tempo, são os mais
protocolares de todos, revelam suas humanidades quando nos é mostrado
que eles falham. É uma falha em forma de gag que inclusive acaba com
uma piadinha boba. Nada mais humano que falhas, bobagens e amor.
O interesse de The Bed Sitting Room não é cair na sociologia
ao imaginar como a raça humana se comportaria em um mundo caótico
e pós-apocalíptico. O interesse aqui é humano. Não é difícil um filme
pós-apocalíptico dar de cara com a sociologia, reimaginando a organ-
ização de um mundo cuja organização foi exterminada. Em The Bed Sit-
ting Room ela não é reimaginada, mas sim transplantada de um mundo
para outro. A existência dessa organização em um mundo que não é o
qual ela surgiu coloca o foco nas pessoas que foram de repente tiradas de
uma realidade e nas suas tentativas de adaptação - por mais que extrema-
mente absurdas e bizarras - em um mundo completamente transformado.
The Bed Sitting Room não é uma obra-prima, mas é um filme que
me colocou pra pensar mais do que imaginava. Descobri coisas que não
esperava descobrir e me deparei com questões que sempre procuro em
filmes e que não tinha achado na primeira vez que o assisti. Me senti in-
clusive um pouco mais iluminado quanto aos “porquês” de rever filmes.
The Bed Sitting Room é um filme que me intriga e, em todo momento em
que estou escrevendo esse texto, sinto vontade - e até um pouco de neces-
sidade - de revê-lo. Talvez exista uma terceira camada nele que ainda não
percebi e, apesar de ainda não ser, talvez em outro momento esse filme
me revele uma obra-prima.
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