Hatari! Revista de Cinema #05 Ficção Científica | Page 21
“God save Mrs. Ethel Shroake of 393A High Street, Leytonstone”, pois
dessas 20, a senhora Ethel Shroake é a mais perto da linhagem da rainha.
Quem fornece energia para a “cidade” é um rapaz em uma bicicleta fixa,
e uma linha de metrô ainda circula. Em um dos compartimentos dessa
linha mora uma família, que deixa sua “casa” no subsolo quando precis-
am achar uma enfermeira para a filha que está grávida. Todos os persona-
gens do filmes são loucos e fazem sentido de coisas completamente sem
sentido. Não fica cl aro se essa loucura vem da radiação da bomba que
dizimou a população ou da tentativa de uma vida normal em um ambi-
ente tão radicalmente diferente. Porém, a radiação existe e age com força.
O personagem que
dá título ao filme é
um Lord que teme
que está se trans-
formando em um
bed-sitting room
(algo como uma
kitnet). De pouco
em pouco ele vai
se transformando, até que a mutação é completa. Alguns outros perso-
nagens viram armários, papagaios e cachorros. O mundo é aterrorizante,
caótico e as pessoas estão ficando loucas. A tentativa de se manterem
britânicas de algum modo enaltece ainda mais a loucura. O humor vindo
dessa tentativa é tão magnífico que é fácil não ver nada no filme além
dele. É uma primeira camada tão satisfatória para os conceitos básicos
da sátira britânica que tudo que existe mais ao fundo corre o risco de não
ser notado, o que é uma pena, pois é a segunda camada do filme que me
motiva a escrever sobre ele.
Essa segunda camada – se é que posso chamá-la assim - me revelou
coisas incríveis. Entre elas, a noção de que esse é um filme triste. Apesar
de ser uma comédia, o próprio motivo pelo qual ela acontece é exata-
mente aquele que me causa uma sensação – na maior parte do filme - do
quanto é inseparável a tristeza desses personagens. O esforço que fazem
para manter suas tradições e estilos de vida ingleses é nítido, e essa niti-
dez não é sentida somente por quem assiste, mas também pelos próprios
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