Hatari! Revista de Cinema #05 Ficção Científica | Page 9
a primeira ficção científica no cinema, o filme se mostra seguindo a lógi-
ca de se utilizar do gênero como suporte pra falar de outras coisas. Não
é “ficção”, é bem real e possível, eles estão vendo na tela. E à ciência ou
verossimilhança nem eles nem Méliès parecem nem um pouco preocu-
pados em prestar contas, pelo contrário, os viajantes que deveriam ser
especialistas na missão que estão realizando são na verdade patéticos em
tudo que fazem. Quase como colonizadores.
O cinema que engatinhava, se apoiava em outras artes pra con-
struir seus primeiros passos: atores do teatro, cenários da pintura, enre-
dos de romance e truques de mágica. Objetos inanimados como a lua e
estrelas também são interpretados quase como um teatro infantil no qual
somos a flor ou o vento ou no teatro medieval em que sentimentos são
personificados e a resolução é praticamente um Deus ex Machina grego.
Isso sem contar toda a técnica e estética das artes visuais... Umas históri-
as de mais de dois mil anos de diferentes linguagens doulando o parto de
uma nova forma de arte que meus alunos, que aprenderam a escrever o
próprio nome há poucos meses, agora presenciam. Eles não têm ideia de
que estão vendo tudo isso. Nem eu até agora.
A ciência que permite que
filmemos pessoas e as projete-
mos em uma superfície plana
torna uma ida à lua tão possível
quanto o cinema. E na viagem
a importância está na imagem,
no vislumbre do espectador em
contemplar os astros celestes tão
belos quanto os humanos. Afinal,
para que iríamos à lua? Senão para olhar a terra, o universo de outro ân-
gulo? Ou por que faríamos cinema? Senão pra ver a vida de outra forma,
pra sentir coisas que talvez nos tornem melhores ou para aliviar o cansaço
da vida? Galileu, quando divaga na conversa com seu aluno Andrea (A
Vida de Galileu, Bertolt Brecht, 1938) resume bem o sentido da ciência:
Vocês trabalham para quê? Eu sustento que a única finalidade da ciência
está em aliviar a canseira da existência humana. E se os cientistas, intim-
idados pela prepotência dos poderosos, acham que basta amontoar saber,
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