Hatari! Revista de Cinema #05 Ficção Científica | Page 8
“Tia, por que as pessoas tão cinza?”
“Não sei, por que será?
“Jogaram tinta nelas.”
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Diz com tanta naturalidade que só eu rio, as outras crianças acham a
resposta bem plausível e concordam acenando com a cabeça. Não lembro
bem por que escolhi mostrar “Viagem à Lua” (George Méliès, 1902) pra
turma de 4 e 5 anos, mas acredito que a lógica tenha sido escolher um
filme curto e diferente do que elas costumam ver. A teoria dos pequenos
nem é de todo absurda. Aliás, se torna bem real quando me lembro da
forma de coloração do filme em questão. Rio e logo paro com um sorriso
amarelo pensando que elas podem compreender a lógica de Méliès mais
que eu.
O filme começa a lhes propor uma relação bem diferente daquela que
eles têm com audiovisuais em geral, que costumam deixá-los meramente
na situação de receptores com olhos e bocas abertos tentando assimilar
a quantia de informação e rindo de qualquer imagem mais inesperada
que surge. Existe aqui a necessidade de se colocarem ativamente no ato
de assistir. A ausência de diálogos permite que eles sejam narradores en-
quanto os quadros abertos fazem os pequenos olhos percorrerem a tela
tubo de 29 polegadas e sempre que um percebe um detalhe que os outros
desconhecem ouve-se um grito e um dedinho indicador apontando pra
algum canto da tela. Essa relação me lembra daquela dos primeiros es-
pectadores do cinema, porém não na mesma situação na qual descobriam
uma nova linguagem, pois todas as crianças em questão assistem cinema
e audiovisual desde bebês, mas sim na situação de ter contato com uma
(ao menos pra eles) forma diferente de realização dessa arte.
Depois vemos a versão colorida e os olhos se arregalam mais ainda.
A paleta de cores