Hatari! Revista de Cinema #05 Ficção Científica | Page 10
por amor ao saber, a ciência pode ser transformada em aleijão, e as suas
novas máquinas serão novas aflições, nada mais. Com o tempo, é possível
que vocês descubram tudo o que haja por descobrir, e ainda assim o seu
avanço há de ser apenas um avanço para longe da humanidade. O pre-
cipício entre vocês e a humanidade pode crescer tanto, que ao grito alegre
de vocês, grito de quem descobriu alguma coisa nova, responda um grito
universal de horror.
De que outra forma em nossa breve existência teríamos a possibili-
dade de contemplar os olhos de Seth Brundle-mosca-Telepod em A Mos-
ca (David Cronenberg, 1986), ou de ver no amor de Sam por Jill a única
fuga possível da cruel realidade de Brazil (Terry Gillian, 1985)? De que
outra forma sentiríamos tudo isso e depois dormiríamos tranquilos? Sen-
timos coisas que não nos pertencem mas acabam sendo nossas de alguma
forma, contribuindo pra formação de humanos mais plenos, com mais
vivências e experiências, seja uma bela viagem à lua ou uma péssima
viagem no tempo.
O sol de Galileu e a lua de Méliès, tudo para aliviar nosso cansaço.
Aliviar a tristeza da vida e tentar dar sentido para ela. Nossa vida é um
segundo durante a história da humanidade: nunca veremos tudo, nunca
sentiremos tudo e o que pudermos fazer para viver mais e melhor, será
feito.
Por Gabriele Maria
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