Hatari! Revista de Cinema #04 Cinema Brasileiro Anos 80 | Page 66

Ainda na primeira cena, Jorge Tadeu, personagem de Antônio Fagun- des, diretor de teatro, nega o pedido do ator de que não houvesse água na banheira sob o argumento de que “ (...) não dá pra gente fazer uma coisa, fi ngir que tem água aqui, assim sem ter, entendeu?”, defendendo um modo de representação realista. Me faz um favor. Olha à tua volta. O que você vê? É um palco que você vê? É um teatro que você vê? Não, não e não. O que você vê é um apartamento e você tá morto na banheira desse apartamento. E é nisso que eu quero que eles acreditem. E aponta para as cadeiras da plateia do teatro. Porém, não é apenas à plateia que se refere esse movimento. Enquanto Jorge Tadeu aponta para as cadeiras vazias do teatro, Barros faz com que aponte, também, para o espectador do fi lme, através de um posicionamento estratégico de câmera. Afi nal, por que a necessidade de um “realismo paranoico”, como Cadu, o ator da peça, diz. Qual a necessidade da água na banheira uma vez que todos os futuros espectadores da peça certamente estarão cientes de que se trata de uma encenação? A água na banheira não tornaria o assassinato real. “Espero que pelo menos você se divirta muito. Que aven- tura louca. Tenho certeza que você vai gostar. Damas da noi- te, dançarinos baratos, garotos de aluguel, doces travestis, tarados, gangsters, tímidos e mascarados: Meus anjos da noite. Mas não leve tão a sério, é só brincadeirinha” 66 É o que diz Malu, personagem de Zezé Motta, enquanto sai de um quarto comum e entra em um corredor escuro, guiando a jovem Cissa para a sala de suas tapes. Um convite tentador, uma saída para outra rea-