Hatari! Revista de Cinema #04 Cinema Brasileiro Anos 80 | Page 47
temente amarrados entre os militares e o Brasil naquele momento. Já em
85, esses laços já estão afrouxados, inclusive com a abertura política em
seu ápice, fazendo a relação dos dois ser diferente, mais fria.
Outra com diferenças na personalidade é Teresinha/Ludmila, sendo
a troca de nomes muito bem utilizada. A primeira tem aparência mais
inocente, querendo simplesmente casar com Max por amá-lo. Enquanto
isso, a outra é muito mais inteligente, querendo-se casar com o malandro
para denominá-lo pai da criança que estava em seu ventre, sendo o verda-
deiro pai seu antigo professor. Porém, mais que isso, toda a manipulação
que ela realiza em Max para concordar com a empresa de importação é
bem evidente no fi lme, enquanto na peça ela não faz nada. Ou seja, a per-
sonagem da obra da telona é muito mais profunda e forte do que a outra.
Max Overseas, em contrapartida, tem seu personagem enfraqueci-
do entre as duas obras. Em 1978, durante as cenas, suas falas e ações
demonstravam quão escorregadio o malandro era com toda sua esperte-
za. Em 1985, pouco se mantém da malandragem de Max, sendo criadas
cenas para se tentar acrescentá-la, sem sucesso, como a do bilhar ou ele
encontrando os “estadunidenses” no cais.
Sobre a história mesmo, em suma, é a mesma: com o casamento, a
empresa de importações e o pai da garota querendo exterminar o malan-
dro. As diferenças marcantes mesmo são a metalinguagem e o fi nal.
A metalinguagem e o fi nal estão intimamente relacionados, uma vez
que a maior parte dela está ali. O ponto é que a ironia realizada na peça
não aparece no fi lme – pelo menos não da mesma forma -, e, mais que
isso, enquanto no primeiro o malandro morre, no outro ele se casa e con-
tinua vivendo feliz. Assim pode-se ver como foi feita a ironia no fi lme, o
viver feliz para sempre, ferramenta de todo fi lme de comédia romântica e
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