Hatari! Revista de Cinema #04 Cinema Brasileiro Anos 80 | Page 40
de Vira-Lata, termo cunhado por Nelson Rodrigues, que defi nia este
complexo como
(...) a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente,
em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas,
que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pre-
textos pessoais ou históricos para a autoestima.
Complexo este que parecia tomar mais força na sociedade brasileira
conforme adentrávamos na década de 80.
Jabor usufrui também da metalinguagem ao utilizar o fi lme como uma
representação da situação cinematográfi ca brasileira da época, fundindo
uma herança culta, realista e denunciativa de teor político-econômico do
Cinema Novo da década de 60, com o cinema entretenimento-espetáculo
e mais comercial que começara a surgir na segunda metade da década de
70 e que se tornara praticamente majoritário em relação a produção au-
diovisual brasileira da década de 80. Maria, em determinado momento do
fi lme, começa a cantar Ewá Candomblé, como uma referência a algumas
produções do Cinema Novo que utilizavam esse cântico (obras como
“Terra em Transe” e “Deus e o Diabo na Terra do Sol”) como uma for-
ma de resgatar referências culturais que representassem uma identidade
brasileira, no decorrer de todo o fi lme temos este embate entre a tradição
cultural nacional e a transformação em um produto comercial infl uencia-
da por forças estrangeiras.
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Na sequência fi nal do fi lme temos talvez uma representação mais con-
creta e decisiva sobre o futuro da produção nacional e o futuro do próprio
Brasil. Paulo dispara seu revólver contra um espelho, destruindo a duali-
dade e assumindo um dos lados. Em seguida Paulo e Maria se entregam
um ao outro em uma envolvente cena, culminada simbolicamente por