Hatari! Revista de Cinema #04 Cinema Brasileiro Anos 80 | Page 41

uma voz off narrando um comercial de sabonete, uma Sônia Braga que- brando a quarta parede e olhando para nós, espectadores, agradecendo ao público como se estivesse em um programa de variedades, concluindo com uma cena fi nal em que Paulo e Maria dançam e cantam em uma rua molhada, cercados por vitrines como se estivessem em um musical, um gênero hollywoodiano por excelência, da década de 30, assumindo desta forma a artifi cialidade comercial do espetáculo. Sendo o próprio fi lme um produto desta onda de fi lmes espetáculo, ainda que consiga fundir esta relação entre o comercial e o “culto”, que vinha na década de 80. “Eu Te Amo” teve uma produção, muito bem orquestrada por Walter Clark, que visava atingir grande bilheteria através de um amplo jogo de mercado por televisão, rádio e até mesmo pela moda com uma etiqueta com o nome do fi lme promovida por Sônia Braga. Tornando-se desta forma uma das maiores bilheterias nacionais e sendo comercializado pos- teriormente em solo estadunidense. Embora “Eu Sei Que Vou Te Amar” mantenha momentos que reme- tam a um discurso social, estes se apresentam com menos frequência comparando-se com os fi lmes predecessores, tendo mais em foco o con- fl ito interno emotivo das personagens interpretadas por Fernanda Torres e Thales Pan Chacon. Porém, mesmo pendendo mais para uma análise individual sobre os personagens e suas refl exões sobre o amor, Jabor con- clui a trilogia do apartamento com uma crítica social feita a sua maneira mais autoral possível, utilizando um sarcasmo tragicômico nonsense na sequência fi nal do fi lme, em que os personagens estão completamente enlouquecidos pelo encarceramento psicológico emotivo, quando o per- sonagem de Thales Pan Chacon caminha com um pequeno polvo preso em seu pé e Fernanda Torres, amedrontada, grita “Olha o polvo!”. Tha- 41