Hatari! Revista de Cinema #04 Cinema Brasileiro Anos 80 | Page 39

o faxineiro-chefe, declarou “Enfi m apareceu a grande cagada nacional”. Tal frase pontua-se ao seu fi nal com o icônico “plimplim” gerando uma crítica ambivalente tanto à mídia brasileira quanto ao cenário político- -econômico brasileiro. Os próprios personagens podem ser interpreta- dos como representações do contexto social. Paulo, um falido industrial, vítima do fi m do milagre econômico, desiludido amorosamente após terminar um relacionamento com Bárbara (Vera Fischer). Maria (Sônia Braga), uma prostituta ou uma bacharela em letras? Que usa seu vestido de baile pela primeira vez em treze anos (uma alusão ao extinto AI-5), representando uma geração feminina que luta por seus direitos na década da revolução feminista, desiludida por seu relacionamento com um avia- dor casado (Tarcísio Meira), representação de uma classe conservadora falso-moralista em declínio. A ideia de dualidade permeia durante todo o fi lme sendo utilizada su- tilmente em aspectos imagéticos (simbolismos como espelhos, refl exos, manequins, etc) e deslocando-se de maneira ambivalente entre discus- sões envoltas num microcosmo (valores e sexualidade de Paulo e a in- defi nição da personagem de Sônia Braga que ora atende por Maria, ora atende por Mônica) e num macrocosmo (tradição x moderno, nacional x estrangeiro). Nota-se nitidamente esta relação dualística entre a cul- tura nacional e a infl uência da cultura norte-americana e sua respectiva visão estereotipada sobre o Brasil ao decorrer do fi lme. Os personagens declamam frases em inglês repentinamente, referenciam algum ícone es- trangeiro em determinados momentos, representam uma visão estereoti- pada e preconceituosa sobre os brasileiros em uma cena em que Paulo e Maria comem frutas e agem como primatas tentando balbuciar alguma palavra enquanto Maria coloca as frutas na cabeça e dança como Carmen Miranda, reforçando desta forma uma discussão sobre o Complexo de 39