Hatari! Revista de Cinema #04 Cinema Brasileiro Anos 80 | Page 38

à época. Sendo essa uma característica recorrente nos fi lmes da trilogia (talvez até mesmo uma característica autoral de Jabor), em “Tudo Bem”, temos uma situação em que uma família de classe média carioca deve conviver com os operários que estão reformando seu apartamento, fun- cionando como uma roupagem para a representação da crescente desi- gualdade social brasileira e suas lutas de classe. Em “Eu Te Amo” e “Eu Sei Que Vou Te Amar” somos novamente confi nados em um apartamento, com seus personagens ensandecidos pela loucura do amor, onde uma narrativa se desenvolverá de modo não convencional na forma de um fl uxo de pensamento autoral pontuado por personagens confusos, assombrados por seus fantasmas e suas respecti- vas dualidades, refl etindo em seus diálogos (ou monólogos) uma socie- dade brasileira em processo de modernização e de importantes mudan- ças, realizando desta forma um exercício psicanalítico dos personagens (individual) ao mesmo tempo que realiza uma análise social (coletivo) do Brasil de 1980. Arnaldo Jabor consegue magistralmente realizar uma espécie de redução de escala ao transpor temas a serem discutidos sobre a realidade da sociedade brasileira da época e internalizá-los sem um único ambiente e em somente dois personagens, valendo-se de divagantes diá- logos, simbolismos e comentários sarcásticos. 38 Esta correlação entre o individual e o social mostra-se mais presente, dentre os últimos fi lmes da trilogia, em “Eu Te Amo”. Como exemplo, tomo a cena de introdução do longa, em que Paulo (Paulo César Pereio) realiza uma paródia do Jornal Nacional. Olhando diretamente para seu espectador, Paulo discorre sobre a notícia da descoberta de uma massa informe e imunda encontrada no centro de Brasília, e que alguns jornalis- tas afi rmam se tratar do fi m do Milagre Brasileiro. Porém, Seu Serginho,