Hatari! Revista de Cinema #04 Cinema Brasileiro Anos 80 | Page 37
A “década perdida” foi como fi cou conhecida a década de 80 para os
brasileiros, uma década de instabilidade político-econômica, quando o
aclamado milagre econômico brasileiro chegara ao seu derradeiro fi m
engatilhado pela crise do petróleo, resultando no aumento de desempre-
go, em dívidas externas exorbitantes e numa crescente desigualdade so-
cial em todo o cenário nacional. Acompanhado desta situação econômica
decadente vinha um igualmente decadente governo ditatorial, que para
sobreviver à pressão popular das “Diretas Já” e do processo de abertura
política que vinha se estabelecendo, recorria a táticas sórdidas (como o
atentado Riocentro) para manter intacto o regime militar conservador de
então. A crise enfrentada pelo país refl etiu-se diretamente na produção
cinematográfi ca nacional, o crescimento exponencial de espectadores e
de renda (chegando a sobrepor produções estrangeiras) obtidos durante a
década de 70 decaiu vertiginosamente ao adentrar na década perdida, re-
sultando em uma redução no número de fi lmes produzidos e numa tenta-
tiva de recuperação fi nanceira pautada em grandes jogadas de marketing
e em produções mais comerciais voltadas ao entretenimento-espetáculo.
É neste cenário que Arnaldo Jabor lança duas de suas obras mais rele-
vantes, “Eu Te Amo” (1981) e “Eu Sei Que Vou Te Amar” (1986), con-
cluindo com estes dois fi lmes (seus únicos fi lmes na década de 80) a
sua “Trilogia do Apartamento”, iniciada na década passada com “Tudo
Bem” (1978). A premissa dos últimos fi lmes da trilogia gira em torno de
refl exões sobre o amor e desilusões amorosas sofridas pelos seus respec-
tivos personagens. Jabor ,no entanto, vai além de produzir um simples
melodrama de classe média em que dois personagens se indagam sobre o
amor em um apartamento de frente para a Lagoa Rodrigo de Freitas (Eu
Te Amo) ou em uma cas a luxuosa (Eu Sei Que Vou Te Amar), utilizando-
-os como alegorias para representações e discussões sociais pertinentes
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