Hatari! Revista de Cinema #04 Cinema Brasileiro Anos 80 | Page 14
Cinema Brasileiro dos Anos 80
HATARI!
e revolucionário. O corte de cabelo masculino, o envolvimento na políti-
ca, a defesa pelo voto feminino, o ato de levar educação aos pescadores,
a liberdade sexual, sua vivacidade e coragem. Todos esses aspectos são
mostrados por Yamasaki, muito além de João Dantas. O relacionamento
dos dois é sim explorado, afinal, um foi decisivo para a história do outro,
mas relembrando sempre que Anayde Beiriz não se resume ao homem
que amou.
Norma Bengell também escolhe apresentar uma faceta diferente de
Patrícia Galvão em Eternamente Pagú. Apesar de sua literatura e o rela-
cionamento da artista com o Modernismo e, principalmente, com Oswald
de Andrade e Tarsila do Amaral estarem presentes por todo o filme, é a
militância, a luta e indignação com o cenário político-social brasileiro
de Pagú que ganha o maior destaque no filme. Com o país recém-saí-
do da ditadura no período em que o filme foi lançado, era mais do que
importante relembrar Pagú e, não só sua insatisfação, mas também sua
coragem de agir, persistir e fazer mudar.
Os anos de ditadura deixam feridas até hoje em seus sobreviventes,
seus familiares e qualquer um que tenha ouvido sobre o terror que foi
esse longo período da história brasileira. Que Bom Te Ver Viva (1989),
de Lúcia Murat, foi uma cutucada dolorosa em seu tempo e, hoje, não
perdeu seu efeito, não ficou velho. É um filme necessário para que lem-
bremos de não nos sentirmos confortáveis com o tempo que passou, de
não esquecer da brutalidade que perdurou por tempo demais na história.
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Lúcia Murat, assim como as outras diretoras aqui citadas, foi presa e
torturada na ditadura. Lúcia Murat é uma mulher que sobreviveu. Mas
como contar sua história se ninguém quer ouvir? Se as pessoas preferem
o seu silêncio? É daí que Que Bom Te Ver Viva surge. Com o título auto-