Hatari! Revista de Cinema #04 Cinema Brasileiro Anos 80 | Page 13
Que Bom Nos Ver
por Hanna Esperança
tão impotente enquanto dois homens decidem e expõem sua vida, sua
sexualidade e ditam o que é verdade ou mentira sobre seus sentimentos
em relação a Sueli, enquanto é constantemente chamada de imoral, suja
e corrupta pelo simples fato de ser lésbica.
É difícil, até nos dias de hoje, achar um filme que trate da homossexu-
alidade feminina sem sexualizá-la, sem torná-la um mero fetiche mascu-
lino pornográfico sob pretexto de representação. Amor Maldito consegue
alcançar a representação necessária e discutir o assunto sem apelar para o
sexo fetichista e raso. Muito mais do que isso, Adélia Sampaio se interes-
sa em falar sobre o amor de duas mulheres, sobre as dificuldades de um
relacionamento, sobre a impotência ao não conseguirmos ajudar aqueles
que amamos e, ainda, fazer uma série de críticas ao tipo de mundo pre-
conceituoso e misógino que, 31 anos depois, ainda temos que encarar.
Voltando a falar de protagonismo feminino, dois filmes se destacam
nesse assunto: Parahyba Mulher Macho (1983), de TizukaYamasaki e
Eternamente Pagú (1987), de Norma Bengell. Ambos retratam uma figu-
ra feminina histórica importante, sendo o primeiro sobre a poetisa e fe-
minista Anayde Beiriz (interpretada por Tânia Alves) e o segundo sobre
a militante e artista Patrícia Galvão, conhecida como Pagú (interpretada
por Carla Camurati).
Anayde Beiriz foi amante de João Dantas, homem importante na his-
tória da Paraíba e do país por ter sido o responsável pelo assassinato de
João Pessoa, e é este aspecto que muitas vezes é relembrado nos livros. Já
no filme, Yamasaki se nega a mostrar apenas essa faceta. Anayde Beiriz
não é e nem foi apenas amante de João Dantas, e é traçando a história da
poetisa desde o começo, quando ainda era menina, que Parahyba Mulher
Macho mostra quem foi essa mulher que possuía um espírito transgressor
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