Hatari! Revista de Cinema #04 Cinema Brasileiro Anos 80 | Page 12
Cinema Brasileiro dos Anos 80
HATARI!
vantes da própria história e, ainda, de se representar sob a própria pers-
pectiva feminina. Suzana Amaral dirige A Hora da Estrela (1985), esco-
lhendo adaptar uma obra literária que além da personagem principal ser
mulher, também é escrita por uma mulher, Clarice Lispector. O que tor-
na ainda mais interessante a adaptação é que Macabéa (interpretada por
Marcelia Cartaxo), a protagonista da história, é completamente comum.
Não é bonita ou sensual, é pobre em um emprego com salário reduzido,
tem manias excêntricas e não tem nada de extraordinário em sua vida.
Suzana Amaral mantém isso em seu filme, não altera as características
da personagem ou de sua trajetória para deixá-la mais interessante ou
atraente, já que é o fato de ser tão comum e ao mesmo tempo tão estra-
nha com suas manias expostas que nos atrai, que nos faz simpatizar com
Macabéa.
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Já Amor Maldito (1984), de Adélia Sampaio, leva ao filme não só o
protagonismo feminino, mas também a temática da homossexualidade
feminina, sendo um dos primeiros filmes brasileiros a focar inteiramen-
te no assunto. Baseado numa história real, Adélia Sampaio nos revela
um país ainda preconceituoso e calcado na religião quando Sueli (Wil-
ma Dias) morre ao se jogar do prédio de sua esposa Fernanda (Monique
Lafond). Fernanda é então acusada de ter matado Sueli e de ter levado
a moça para o mau caminho e enfrenta um tribunal que irá julgar sua
inocência, sendo exposta a todo momento pelos advogados e pela fa-
mília religiosa de Sueli. Enquanto o tribunal ocorre, Fernanda relembra
dos momentos com a parceira, como se conheceram, o casamento, as
felicidades e infelicidades, reconstruindo assim, através de flashbacks, a
história das duas mulheres.
Doloroso, Amor Maldito nos agonia ao mostrar Fernanda no tribunal