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Começamos a trabalhar em Maio na observação e captação de jogadores, para termos a 1ª eliminatória com a África do Sul no início de Agosto. Juntamos 60 jogadores no centro de estágio da seleção e fomos fazendo jogos entre eles e escolhendo os que teriam mais condições
para representar a seleção nacional.
Saber que havia tantas carências e limitações no país, e constatar quando saía à noite para ir ao café, que havia jovens universitários que estudavam debaixo dos candeeiros que iluminavam as ruas, tive a noção de quanta ambição ia nas cabeças dos miúdos.
Saber que o sonho de qualquer um dos meus meninos seria ir para a Europa jogar, comecei a alicerçar o meu discurso na chance de alguns poderem alcançar esse objetivo com o sucesso na nossa caminhada.
Num escasso período de tempo para formar uma seleção de futebol, foi-nos dada a possibilidade
de termos uma experiencia internacional em Marrocos. Foi uma viagem de descobertas. Foi a 1ª vez que os meus meninos andaram de avião, foi a 1ª vez que viram o mar, foi a 1ª vez que andaram de escadas rolantes, e a 1ª vez que tomaram um pequeno-almoço num hotel com buffet á discrição. Não imaginam o que foi esse primeiro pequeno-almoço. Cada miúdo levava um prato mais cheio do que o outro parecendo torres enormes de alimentação. Claro que no dia seguinte tive que pôr o médico a controlar a comida.
Viver em Burkina Faso é uma experiencia de vida fantástica onde a adaptação ao meio tem que ser constante.
Vou relatar um episódio entre centenas que me surpreenderam, pelo inusitado da situação: Num dia de folga resolvemos ir jogar golfe. Quando chegamos ao campo de golfe eu observei que não
havia relva nenhuma em lugar nenhum. Então foi
estranha aquela chegada ao campo de golfe. Começamos a bater umas bolas num espaço de treino onde havia retângulos de relva sintética para as saídas de bolas. Quando nos propusemos a fazer 9 buracos havia um miúdo que nos punha um retângulo de 1 metro por meio metro para as saídas de bola. Então esse retângulo sintético acompanhou-nos os 9 buracos. Onde caía a bola, o miúdo levantava a bola e colocava o retângulo sintético para nós batermos a bola. Os greens eram de terra batida macia. Quando a bola entrava no green, o miúdo alisava a terra na trajetória da bola até ao buraco.
Podia estar aqui a escrever centenas de páginas com este género de aventuras deliciosas que eles encaram como normais na realidade do país.
"Consequência dessa vitória foi viajarmos no avião presidencial. O Exmo. Sr. presidente da república Blaise Compaoré disponibilizou-nos o avião presidencial para nos ir buscar a Rwanda."
Vítor Valente, Pedro Lima e Rui Vieira, equipa técnica portuguesa campeã de África no escalão sub-17
Setembro, 2013