FutAfrica Setembro 2013 | Page 6

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"Campeão africano? Onde fica Burkina Faso?" Pois é. Essa era a pergunta que eu mais ouvia quando eu dizia que ia trabalhar para Burkina Faso. Para quem não sabe, Burkina Faso é um país que fica na parte mais Oeste de África e faz fronteira com 6 países. A norte Mali e Níger e a sul Costa do Marfim, Gana, Togo e Benin. Burkina Faso país dos Homens Íntegros é como é conhecido o país onde fui campeão de África no escalão sub 17. Um país com gente simples onde o sorriso faz parte do dia-a-dia, onde a cordialidade está sempre latente nos gestos e nos olhares humildes dos cidadãos.

O primeiro impacto é demolidor para quem não está preparado. Quando cheguei pela primeira vez a Ouagadougou, a capital, deparei-me com um aeroporto surreal onde o chão das Chegadas era em terra batida e o transporte das malas era feito por uns reboques com pneus de carro que entravam no salão e que cada um ia lá buscar a sua mala.

Então esta primeira abordagem com o país teve um impacto, de que me esperava um grande desafio no projeto de treinar uma seleção nacional sub-17 de Burkina Faso. Um país com enormes carências de vária ordem, aparentemente sem fome, mas com uma alegria de viver sem precedentes. Um país onde o sorriso anda sempre de boca em boca e contagia quem lá vive. Um país pobre, onde a segurança impera, não porque haja muita polícia, mas sim porque o povo é assim, sereno e de paz. Por vezes fazendo justiça popular, é verdade, mas sempre com sentido de justiça. Pode ser polémico o que estou aqui a relatar, mas na verdade sente-se segurança onde quer que se vá. Tirei milhares de fotos nos locais mais pobres, onde o dinheiro não abundava e nem por isso me

senti inseguro. O sorriso e a boa educação estão nos genes do povo. Então tudo isso facilitou a minha tarefa. Um trabalho gigantesco me aguardava.

Quando assinei contrato e tomei as rédeas da liderança constatei que não havia nenhuma base de dados de observação de jogadores, nem sequer havia, nem há campeonatos de escalões jovens. A única coisa que havia era uma base boa de escolas de futebol particulares que apostavam na formação de jogadores. Então a partir daí comecei a andar pelo país na captação de jovens jogadores com potencial para representar a seleção nacional. Foi um trabalho que exigiu muita dedicação, mas ao mesmo tempo muita

responsabilidade nas escolhas que fizemos. Tínhamos pouco tempo para formar uma seleção do ZERO.

"Quando cheguei pela primeira vez a Ouagadougou, a capital, deparei-me com um aeroporto surreal onde o chão das Chegadas era em terra batida e o transporte das malas era feito por uns reboques com pneus de carro que entravam no salão e que cada um ia lá buscar a sua mala."

A bordo do avião presidencial, disponibilizado pelo Exmo. Sr. presidente da república Blaise Compaoré

Setembro, 2013