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homossexuais são realmente inseridos pela sociedade?

O gay considerado discreto, sim. Travestis, transexuais e pintosas de maneira geral esbarram num problema que talvez anteceda (no sentido da condição humana) a causa LGBT: o fato de explicitarem sua porção mulher. São espancados e mortos porque deixaram aflorar a mulher que existe neles. Hoje, pleno 2016, a expectativa de vida de uma travesti no Brasil gira em torno de 35 anos! Nesse sentido, quando fala-se em visibilidade trans, por exemplo, fala-se sobre a necessidade de inclusão dessas pessoas nas escolas, nas universidades e nos empregos que não se restringem somente à prostituição. Estamos mudando a passos de tartaruga, mas o esclarecimento sobre identidade de gênero e orientação sexual esbarra em impedimentos morais tanto da sociedade civil quanto de políticos reacionários que fomentam discursos e crimes de ódio.

4- Como foi sua inserção no mercado de trabalho? Você percebeu algum tipo de desvalorização por causa da sua escolha sexual?

Sou uma bicha discreta e isso não é uma bandeira que levanto com orgulho. Mas sou assim e ponto. O fato é que é mais fácil para o gay “machinho” conseguir um bom emprego do que para o gay afeminado, embora seja este que exibe diariamente a cara para bater, pois é o alvo estereotipado que a sociedade elege enquanto indivíduo inferior e merecedor de hostilidade (ou de piada, como as exibidas em programas da TV aberta no sábado à noite). Nunca meu trabalho foi desvalorizado por conta da minha orientação sexual. Tive a imensa sorte de trabalhar com pessoas incríveis, esclarecidas e que souberam me respeitar. Sou professor, talvez seja por isso. É inconcebível o medo da homossexualidade, que é a definição mais simples de homofobia, ser percebido em pessoas que devem lidar diariamente com a diversidade. Não que não existam professores homofóbicos, mas o ambiente escolar, sobretudo se o professor for político no seu sentido mais amplo, é o lugar em que essas questões devem estar presentes da maneira mais honesta e esclarecedora. Não pode haver mais tempo para o obscurantismo.

o medo da homossexualidade, que é a definição mais simples de homofobia, ser percebido em pessoas que devem lidar diariamente com a diversidade. Não que não existam professores homofóbicos, mas o ambiente escolar, sobretudo se o professor for político no seu sentido mais amplo, é o lugar em que essas questões devem estar presentes da maneira mais honesta e esclarecedora. Não pode haver mais tempo para o obscurantismo.

5- Desde 2009, a comunidade LGBT vem sendo vitoriosa, como a mudança na certidão de nascimento, a legalização da união homoafetiva e sua conversão em casamento. Como você avalia, no cenário político atual, o futuro do reconhecimento da diversidade sexual brasileira?

São vitórias importantíssimas essas aprovações legais. O nome é a marca identitária de um cidadão e não cabe (nunca coube, aliás) o constrangimento pelo qual passam os transexuais em situações cotidianas, ao mesmo tempo em que é incrível o reconhecimento de que o perfil da instituição família é outro e os homossexuais, que sempre formaram clandestinamente um lar, agora podem oficialmente fazê-lo. Além disso, a adoção por casais homoafetivos, que também é permitida, é ainda mais estimulada em virtude desse avanço. Mesmo assim, a luta é constante e ininterrupta, já que os crimes motivados por homofobia, que ainda não são reconhecidos como tal, são justificados por qualquer outro motivo que não o ódio. Movimentos feministas lésbicos e movimentos gays ligados à igreja católica surgem como combustível para as discussões que precisam ser problematizadas a todo instante, sem contar nos mais diversos coletivos gays espalhados pelo Brasil, que não cessam de lutar por um mundo mais justo e colorido. Todos, sem exceção, deveriam ser ouvidos.