Os nenúfares Desafiada pelas mais de duas centenas de pinturas de nenúfares do jardim de Giverny , tantas delas representadas sob o manto turvo das cataratas de Monet , e pela arte de Cézanne , com o seu amor pelas formas geométricas realizadas através de pinceladas de cor , onde a utilização dos azúis , entre vibrantes amarelos e laranjas , confere às suas pinturas da natureza uma atmosfera de profundidade , decidiu realizar uma experiência de desconstrução com os nenúfares que fotografou no lago do parque Terra Nostra , na ilha de S . Miguel . Os seus nenúfares , aos quais retirou o esplendor cromático , parecem deslizar num contínuo entre a água e uma película de textura muito leve , conferindo ao conjunto uma beleza noturna , quase desprovida de luz . O olhar é atraído pela forma que parece desenhar relações tonais , estranha harmonia que solicita uma atenção subtil , para que as distinções possam emergir . No luto da cor e da forma o transfundo da memória ameaça trair a visão exposta .
Revelações Há dias foi à gaveta onde guarda os cadernos que se encontram nas lojas dos museus e que costuma comprar quando vai a alguma exposição temporária . Desta vez escolheu um František Kupka , “ Le Rouge aux Lèvres ” cuja exposição visitou em Paris , no Grand Palais , em 2018 . A predominância de vários tons de azul e as pinceladas largas que evidenciam os traços do rosto da mulher , o fundo e a blusa ,
49