Fluir nº 11 - Abril 2023 | Page 43

Os leitores contemporâneos podiam encontrar nas páginas de um outro jornal – A Gazeta de Portugal – títulos muito próximos daqueles atribuídos a Fradique Mendes : eram a repetição em prosa dos temas emocionais e das influências literárias francesas , encabeçando textos assinados por Eça de Queirós . Essas influências seriam confirmadas , anos mais tarde , nas páginas d ' A correspondência de Fradique Mendes como descoberta fantástica de estética moderna por parte do narrador e dos seus amigos : o encontro com a poesia de Baudelaire e Leconte de Lisle fora para eles « um deslumbramento e um amor !» ( Queirós , 2014 : 80 ).
No livro , a « Serenata de Satã aos astros » seria , como se disse , um dos poemas do volume por publicar intitulado Lapidárias , « versos com que se orgulharia Leconte de Lisle .» ( QUEIRÓS , 2014 : 103 )) Fradique ,
não considerava assináveis esses pedaços de prosa rimada , que decalcara , havia quinze anos , na idade em que se imita , sobre versos de Leconte de Lisle , durante um Verão de trabalho e de fé , numa trapeira de Luxemburgo , julgando-se a cada rima um inovador genial … ( QUEIRÓS , 2014 : 103 ).
O autor francês dera à estampa , em 1862 , um livro de Poémes Barbares . Nele cantava em verso a Tristeza do Diabo : um Satanás silencioso olhava o abismo negro , escutava , nos Hossanas e nos Te Deum servis entoados na Terra , o « lugubre concert du mal universel , / aussi vieux que le monde et que la race humaine » ( Lisle , 1862 : 295 ). Satã lamentava a sua Eternidade , os dias monótonos que nela se sucediam numa sonolência que o envolvia para todo o sempre .
Em Portugal , o jovem Eça de Queirós publicava , ainda na Gazeta de Portugal , textos que , segundo Batalha Reis , eram influenciados pelo « maravilhoso popular germânico » e por Henri Heine , crónicas em que abades vendiam a alma ao Diabo , useiro em escrever missivas a monjas . Instado pelo amigo , anos mais tarde , a reunir esses folhetins em volume , Eça dizia : « Talvez se deva republicar isso em livro […] Mas sob o título crítico e severo de Prosas Bárbaras .» ( QUEIRÓS ; REIS , 1966 : 131 ), título atribuído a um volume póstumo que reúne a
- Estou velho . Vai-se-me a vida . Sou o último dos que combateram nas estrelas . Os abutres já me apupam . É estranho : sinto nascer cá dentro , no peito , um rumor de perdão (…) Vou achando risível a obra dos Seis Dias .
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