Fluir nº 1 - setembro 2018 | Page 35

Fluir nº1 - Renascimentos - 2018 comovidos e um e outro e todos os braços se erguem com lenços a acenar à Liberdade, essa palavra que não ousávamos pensar. Pego no lenço branco de Sara e aceno com força e choro, todos choramos, mas são de alegria estas lágrimas, porque agora tudo será novo e seguro e ninguém correrá atrás de nós para nos aniquilar. É quase noite quando chego à morada de Newark que, depois de uma longa espera, a senhora da Comissão para Refugiados de Guerra me entregou, escrita num cartão, e só agora reparo tê-lo segurado na mão com tanta força que me doem os dedos. Demoro-me à porta do prédio, e deixo o meu coração resgatado bater de expectativa, de alegria e de esperança, num estado de paz que não experimentava desde Berlim. Eis-me, enfim, na Terra Prometida onde ninguém me fará mal. Pego na mala para começar a subir a escada, quando um rapaz, que sai da porta, me olha com aquele esgar que eu tão bem conheço e me atira à cara “Jew”.) (Dezembro, 2017) 35