Fluir nº1 - Renascimentos - 2018
comovidos e um e outro e todos os braços se erguem
com lenços a acenar à Liberdade, essa palavra que não
ousávamos pensar. Pego no lenço branco de Sara e
aceno com força e choro, todos choramos, mas são de
alegria estas lágrimas, porque agora tudo será novo e
seguro e ninguém correrá atrás de nós para nos
aniquilar.
É quase noite quando chego à morada de Newark que,
depois de uma longa espera, a senhora da Comissão
para Refugiados de Guerra me entregou, escrita num
cartão, e só agora reparo tê-lo segurado na mão com
tanta força que me doem os dedos.
Demoro-me à porta do prédio, e deixo o meu coração
resgatado bater de expectativa, de alegria e de
esperança, num estado de paz que não experimentava
desde Berlim. Eis-me, enfim, na Terra Prometida onde
ninguém me fará mal.
Pego na mala para começar a subir a escada, quando um
rapaz, que sai da porta, me olha com aquele esgar que
eu tão bem conheço e me atira à cara “Jew”.)
(Dezembro, 2017)
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