Ewe O conto das Folhas Sagradas Livro Ewe o conto das folhas | Page 11
Ewé: o conto das folhas sagradas
Ewé, o grande feiticeiro e curandeiro, detém todo conhecimento sobre o segredo da magia e pro-
priedades das folhas, seu uso, suas virtudes, tudo o que cada pequena e grande folha, raiz, casca
serve da natureza para todas as formas de vida.
Reconhecido seu poder até pelas grandes feiticeiras Ajés, Ewé é o rei do universo da grande mãe
natureza, Olorun, seu criador, lhe presenteou com esta sabedoria, gerando nos outros orixás, a ganância
desta riqueza, que levou a Xangô e Iansã, junto a seus companheiros e companheiras arquitetarem uma
armadilha para extrair tais segredos de Ewé. Num dia sagrado, Ewé pendurava num galho de Iroko uma
cabaça contendo suas folhas mais sagradas. Então, foi pedido a Iansã que armasse uma forte tempesade,
o sufi ciente para revirar tudo, a fi m de derrubar a cabaça e espalhar as folhas para bem longe. Os outros
Orixás então, seguidos da ordem de Xangô, foram a captura das folhas, encarregados cada um e uma de
achar uma folha que seria sua, tornando seus donos (as). O plano, porém, era falho, pois tomar a folha
para si não os tornariam donos (as) dos seus segredos e sabedorias, cabendo assim, ainda somente a
Ewé tais feitos da magia das folhas.
Imagine que milênios depois, Ewé olhasse pra Terra, viesse buscar folhas na mata, e no seu lugar
encontrasse enormes folhas de petróleo manipulado, plásticos, raízes secas, mortas, sem água limpa
para se sustentar, podres e aterradas aos montes no lixão. Imagine o caos, toda a natureza em formas
espetaculares, em rodas de alumínio, com asas motorizadas, emborrachadas, impermeável, vidrada, imagi-
nou? E onde estaria a sabedoria de Ewé? O orixá do conhecimento ancestral e a astúcia de um jovem,
de que serviria sem a natureza para reverenciá-la?
Portanto voltemos um pouco antes do caos, talvez agora em meados dos anos 2000, no novo milênio,
é um bom tempo para se contar este conto...
Olorun, olhando para sua criação, sente uma preocupação com o futuro da Terra, mas não em es-
pecial com os seres criados, pois ele sabe que estes são conhecedores da sobrevivência por sempre
saberem contornar os males gerados por eles mesmos. Sua preocupação é com a natureza e suas criaturas,
pois estes beiram à extinção, seus recursos já não são ilimitados, e suas reservas beiram ao colapso
da dizimação.
Assim, Olorun pede a Ewé que vá ao mundo dos humanos e colha as folhas da ancestralidade que
ainda re sistem às más auguras históricas deste povo, enquanto que Olorun convoca os Orixás para uma
reunião.
Olorun então alerta os Orixás sobre a situação e sua preocupação com a continuidade do culto à
natureza, e diz-lhe que, baseado nos Itans, os humanos buscam sua semelhança em seus temperamentos e
forças, portanto, lhes presenteariam se não mais houvesse a ganância e a inveja entre seus poderes,
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para levar este conhecimento aos humanos, pois senão estes não mais saberão reconhecer nem reverenciar