O toque dos instrumentos e os ritmos daí decorrentes remetiam genericamente ao passado africano. A
musicalidade negra pode ser vista como uma arma essencial da resistência cultural e politica. Entretanto, uma
outra face da expressão cultural de homens de cor, por meio da música pouco ou nada apontava para o
africanismo ou até à resistência. Faziam parte desta face milhares de pardos, pretos e mulatos que se
dedicaram ao estudo e ensino, produção e reprodução de música erudita no Brasil.
Não é atípico que na musicologia existiu um tom de “desabafo” por parte dos autores. Por um lado, admite-se
que grande parte do que foi produzido e que foi praticado em colónias portuguesas estará perdido para
sempre, por outro lado existem obstáculos que dificultam o acesso aos documentos, como a falta de
catalogação dos arquivos e a postura de entidades privadas em dificultar a consulta aos vestígios históricos.
É possível afirmar que até a chegada da família real ao Rio de Janeiro e a decorrente fundação da Capela Real,
era nas igrejas que se concentrava grande parte da música erudita praticada no Brasil.
No entanto, em adição à música sacra já existente, havia ainda a música instrumental erudita e as
representações cénico- musicais (estas últimas executadas nas Casas de Ópera e mantidas por particulares).
Mesmo nestas modalidades de música profana, os cantores e instrumentistas que as executavam prestavam os
seus serviços fundamentalmente nas igrejas.
Músicos p ardos e mulatos nas capitanias
A configuração de Minas Gerais deveu-se ao fluxo de indivíduos imigrantes desde os finais do século XVII que
tinham como objetivo mor o enriquecimento proporcionado pela descoberta do ouro.
Sabe-se que tal configuração social teria proporcionado a obtenção de bens pelos cativos, que tiveram
maiores
condições. Essa maior mobilidade deu origem a uma sociedade dinamizada pela existência de um grande
número de homens de cor livres. Estes acabam por se destacar no exercício de ofícios mecânicos e artísticos.
Os músicos surgiram justamente desse grupo social intermediário, pois “foi produzido em Minas Gerais um
processo sem precedentes na história da música, visto que cantores, compositores, instrumentistas e regentes
foram em sua maioria homens híbridos, ou seja, pessoas de pele escura”.
JANEIRO
2018
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EUFONIA
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