EUFONIA Música no século XVIII | Page 17

O toque dos instrumentos e os ritmos daí decorrentes remetiam genericamente ao passado africano. A musicalidade negra pode ser vista como uma arma essencial da resistência cultural e politica. Entretanto, uma outra face da expressão cultural de homens de cor, por meio da música pouco ou nada apontava para o africanismo ou até à resistência. Faziam parte desta face milhares de pardos, pretos e mulatos que se dedicaram ao estudo e ensino, produção e reprodução de música erudita no Brasil. Não é atípico que na musicologia existiu um tom de “desabafo” por parte dos autores. Por um lado, admite-se que grande parte do que foi produzido e que foi praticado em colónias portuguesas estará perdido para sempre, por outro lado existem obstáculos que dificultam o acesso aos documentos, como a falta de catalogação dos arquivos e a postura de entidades privadas em dificultar a consulta aos vestígios históricos. É possível afirmar que até a chegada da família real ao Rio de Janeiro e a decorrente fundação da Capela Real, era nas igrejas que se concentrava grande parte da música erudita praticada no Brasil. No entanto, em adição à música sacra já existente, havia ainda a música instrumental erudita e as representações cénico- musicais (estas últimas executadas nas Casas de Ópera e mantidas por particulares). Mesmo nestas modalidades de música profana, os cantores e instrumentistas que as executavam prestavam os seus serviços fundamentalmente nas igrejas. Músicos p ardos e mulatos nas capitanias  A configuração de Minas Gerais deveu-se ao fluxo de indivíduos imigrantes desde os finais do século XVII que tinham como objetivo mor o enriquecimento proporcionado pela descoberta do ouro. Sabe-se que tal configuração social teria proporcionado a obtenção de bens pelos cativos, que tiveram maiores condições. Essa maior mobilidade deu origem a uma sociedade dinamizada pela existência de um grande número de homens de cor livres. Estes acabam por se destacar no exercício de ofícios mecânicos e artísticos. Os músicos surgiram justamente desse grupo social intermediário, pois “foi produzido em Minas Gerais um processo sem precedentes na história da música, visto que cantores, compositores, instrumentistas e regentes foram em sua maioria homens híbridos, ou seja, pessoas de pele escura”. JANEIRO 2018 • EUFONIA | 15