EUFONIA Música no século XVIII | Page 16

como a Missa de Nossa Senhora da Conceição para 8 de dezembro de 1810, celebrada na Capela Real.  Todavia, a historiografia sugere que a vinda de muitos músicos portugueses para o Rio de Janeiro terá causado a perda de hegemonia do padre Garcia como mestre-de- capela da Sé, sobretudo devido à disputa entre o mesmo e o compositor e maestro Marcos António da Fonseca Portugal (1762-1830). De qualquer forma, esses acontecimentos não têm em consideração as evidências concretas remetentes à função e ao peso participativo de Marcos Portugal no cenário musical da corte, que seria limitado. O caso de Nunes Garcia constitui uma situação exemplar e notória justamente porque ocorreu em meio à exuberância da corte portuguesa, num contato direto deste com o centro de poder político, econômico e cultural lusitano. Não obstante, existem vestígios de um leque de homens de cor que exerceram o ofício e a arte da música sacra e erudita em espaços brasileiros, previamente à chegada da corte. No decorrer do século XVIII, citando caso, teria evolvido uma escola de compositores da capitania geral das Minas Gerais, integrada em grande parte por homens de cor. No que toca as outras capitanias, os vestígios destes indivíduos encontram-se mais fragmentados. A historiografia pouco analisou a atuação social e os anseios destes homens livres de cor simultaneamente. A música colonial do Brasil e a suaimportância como recurso histórico A rica musicalidade das manifestações públicas realizadas por estes são destacadas. No Brasil, a música surgia acompanhada por danças e rituais religiosos, era ainda um componente sendo por esta razão fundamental no quotidiano dos negros.Estas práticas coletivas não são atos “desinteressados” nem frutos do acaso. De facto, faziam parte da sua disputa por liberdade que muitas vezes se encontrava nas mãos de homens de raça ariana. 14 | EUFONIA • JANEIRO 2018