EUFONIA Música no século XVIII | Page 18

Como tal, a inserção social destes indivíduos foi caracterizada por um grau de enrendamento, por não serem escravos, mas ao mesmo tempo conviverem com entraves que prejudicavam o alcance dos privilégios dos homens brancos. Vestígios refentes à atuação dos músicos encontram-se dispersos ou perdidos. Para além disto, a documentação que revela alguns traços dessa experiência concentra-se essencialmente a partir da segunda metade do século XVIII. Isso pode estar relacionado, como observou o historiador Aldo Luiz Leoni, com mudanças ocorridas na estrutura de contratação dos serviços musicais, visto que, se durante a primeira metade do século eram monopolizados por mestres brancos, a partir da segunda metade passaram maioritariamente para o encargo de homens de cor. Podemos afirmar que a música estava dividida em três fraturas fundamentais: câmaras, irmandades e os regimentos militares. Contudo, eram os atos litúrgicos (contratados pelas câmaras e irmandades) que proporcionavam meios de sobrevivência para os músicos. As câmaras estavam encarregues das festas anuais e constituíam-se de eventos como o Corpus Christi e as festas em homenagem ao santo protetor de cada vila. Outras solenidades davam-se de acordo com as novidades vindas do reino, como o nascimento de um príncipe, casamentos ou mesmo pela morte de algum soberano.” As contratações executadas pelas câmaras davam-se em praça pública e ganhava o arremate em que o respetivo regente do conjunto oferecesse o melhor preço”. 16 | EUFONIA • JANEIRO 2018