Entrecontos Agosto/18 - Número 001 entrecontos agosto 2018 numero 1 | Page 17
animais também fitavam a mulher e toda sua beleza
exuberante, Deuclécio vinha atrás, gritando e xingando.
— Não preciso mais de você! Pode ir embora.
Tenho tudo que preciso aqui. Pode voltar para sua vida em
suas águas sujas. Pode ir. Vá mas nunca mais vai poder
voltar.
A mulher parou abruptamente, Deuclécio sen u-
se seguro de suas palavras, a mulher pensara melhor e iria
ficar, lentamente ela se virou e disse uma simples palavra
que , como uma faca, pareceu cortá-lo no meio.
— Não pretendo voltar.
Então correu para as águas e mergulhou. Deuclécio
ficou parado, olhando e sorrindo sem saber o mo vo do
que achava graça, mas eis que algo começou a acontecer.
Seus quatro filhos começaram a caminhar para o rio,
percebendo o que estava preste a acontecer, tentou
impedir, mas nenhum de seus esforços foram suficientes
para impedi-los. Quando tentava segurá-los, soltavam
gritos tão altos e fortes que era forçado a tampar seus
ouvidos que pareciam próximos de explodir.
Seus filhos entraram nas águas e foram seguidos
por tudo mais que estava sob aquela terra, lentamente e
sem poder fazer nada, Deuclécio viu seu gado, sua
plantação, seus patos e todos os animais submergindo no
rio e assim con nuou até que lhe sobrasse apenas, sua
velha casa, suas roupas velhas e as poucas melancias que
ainda exis am na margem do rio.
Deuclécio ainda ficou esperando pela volta da
mulher e de tudo que possuía, mas ela cumprira sua
palavra, disse que jamais voltaria, e Deuclécio esperou,
esperou, até que uma doença o abateu, seus vizinhos, que
agora eram mais distantes que nunca, diziam que havia
ficado louco e que a mulher o deixara tarde da noite.
Deuclécio morreu sozinho, deixando nas paredes, e na
margem do rio: Me perdoe, Iara.
Adriano Villa
Escritor, poeta, cronista, dramaturgo, roteirista e men roso
Idealizador do Projeto Hamlet, House of Bones do Versover
e autor do livro A Casa de Ossos
www.adrianovilla.com.br | e-mail: adriano.villa.com.br
17