Ed. 320 - completa Setembro / Outubro - 2020 | Page 66

SENADO DEIXA CADUCAR MP QUE ALTERA regras trabalhistas A Agência Senado divulgou a retirada da Medida Provisória (MPV) 927/2020, que altera as regras trabalhistas durante o período da pandemia, da pauta de votação no Senado. Na sessão remota do dia 15 de julho, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre decidiu pela retirada de pauta após ouvir a opinião das lideranças partidárias sobre a matéria, cujas regras contemplam o teletrabalho, a antecipação do gozo de férias e de feriados e a concessão de férias coletivas, entre outros tópicos. Na semana anterior, a falta de entendimento já havia impedido a votação da proposição pelos senadores, tendo em vista a polêmica gerada pelos dispositivos do Projeto de Lei de Conversão (PLV) 18/2020, resultante da MP, que recebeu mais de mil emendas no Senado. Editada pelo Executivo em março, a MP 927/2020 já havia sido alterada pelos deputados, que a transformaram no PLV, relatado pelo senador Irajá (PSD/ TO), que acolheu apenas 12 das emendas apresentadas ao texto. Davi Alcolumbre ressaltou que faltou acordo para exame da matéria. O presidente do Senado explicou que 17 destaques foram apresentados à proposição, e ressaltou ainda que o sistema remoto de votação pode ter contribuído para a falta de um entendimento entre as lideranças partidárias para exame do texto. “Quando não se tem entendimento é praticamente impossível votar MP ou uma matéria com a complexidade dessas”, afirmou. O líder do governo, senador Fernando Bezerra Coelho (MDB/PE) reconheceu a complexidade do tema e a dificuldade para colocar a MP em votação no Senado. Ele disse que faltou argumento por parte da própria liderança do governo para convencer os senadores sobre a votação da MP. Também reconheceu o esforço do relator. E afirmou, porém, que o governo poderá “buscar soluções” para o que não foi deliberado. A senadora Eliziane Gama (Cidadania/MA) observou que a MP contém mudanças profundas na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e retira direitos trabalhistas. Ela ressaltou que o texto aprovado na Câmara prevê a dispensa de realização de exames demissionais, e também a devolução de remuneração de férias por parte dos empregados quando não houver completado o período aquisitivo ou em caso de demissão. Para o senador Randolfe Rodrigues (Rede/AP), a matéria é amplamente controversa. Ele observou que todos os partidos de oposição apresentaram destaques ao texto a ser votado. O senador Eduardo Braga (MDB/AM) afirmou que a matéria é extremamente complexa e envolve direitos trabalhistas. Ele reconheceu o esforço do relator da MP, senador Irajá (PSD/TO), mas ressaltou que não se sentia tranquilo para adentrar no mérito da proposição, que estabelece a prevalência do acordo individual sobre a questão coletiva, o parcelamento do salário educação e da previdência, entre outros pontos. O senador Paulo Paim (PT/RS) criticou o projeto por estabelecer o parcelamento de débito trabalhista em cinco anos, a prorrogação da jornada para profissionais da saúde e a adoção de banco de horas que pode ultrapassar o período da pandemia e chegar a 18 meses. Paim destacou ainda que outras MPs já aprovadas pelo Congresso contemplaram vários pontos previstos na proposição, favorecendo o governo. Na avaliação do senador Rodrigo Pacheco (DEM/MG) as circunstâncias atuais e as limitações naturais do processo remoto de votação não favorecem o exame do texto. O senador Otto Alencar (PSD/BA) disse que a matéria é polêmica e que muitos setores da indústria, que a ele recorreram, avaliaram a possibilidade de aumento do desemprego com a aprovação da proposta. A retirada da MP da pauta de votação também foi defendida pelos senadores Alvaro Dias (Podemos/PR), Major Olímpio (PSL/SP) e pelas senadoras Rose de Freitas (Podemos/ES), Daniella Ribeiro (PP/PB) e Zenaide Maia (Pros/ RN). O próprio Governo Federal trabalhou para que a Medida Provisória 927 deixasse de ter validade antes de ser aprovada pelo Congresso, principalmente após as alterações feitas pelo senador Irajá (PSD/TO), relator do texto na Casa, para prorrogar a suspensão da cobrança de tributos das empresas até dezembro. A área econômica é contra alteração, pois pressionaria ainda mais os cofres públicos, somando-se a necessidade de aumento de gastos e ao adiamento de cobranças concedido no segundo trimestre deste ano. Para não prejudicar empresas que esperavam pela aprovação da flexibilização das relações trabalhistas já previstas até o fim do ano, como antecipação do repasse do terço de férias, adiantamento de férias e regime especial de compensação por meio de banco de horas, a equipe da área econômica busca alternativas, seja através de um projeto de lei que incorpore esses itens ou pela inclusão desses artigos em alguma outra medida provisória em tramitação, objetivando também oferecer maior segurança jurídica para as empresas.