ebook_curadoria_digital_usp.pdf Curadoria Teste - May. 2014 | Page 57
Obviamente devemos ser críticos e pensar que não foi a tecnologia digital que tornou a todos participantes. Um
repórter do periódico Guardian (apud Dijck, 2009, p. 44) observou que de cada 100 pessoas on-line, uma cria conteúdo,
dez interagem com ele (comentando ou oferecendo incrementos) e os outros 89 apenas leem, ou seja, continuam
como espectadores passivos. Ainda assim, vale ressaltar que, embora não produza, está consumindo este conteúdo
e pode se influenciar (positiva ou negativamente) em relação à empresa, produto ou serviço. E é ainda um potencial
consumidor para a marca. Desenhamos a teoria do jornalista na figura n. 1.
Por outro lado, Keen (2007) acredita que essa cultura do amador tenha ou vá destruir ainda mais o sistema
de conteúdo pago e também de profissionais que se dedicavam a isso. Keen vai além afirmando que amadores e
profissionais não podem coabitar o mesmo sistema cultural. Apesar de Keen se preocupar em defender a cultura,
os artistas e os pensadores, a realidade midiática digital promovida pelas redes sociais on-line é algo irreversível e
impassível de retrocesso.
Jenkins (apud Deuze, 2006, p. 695) entende que seu livro “Cultura da Convergência” foi pensado para gestores,
produtores, designers e desenvolvedores a fim de provar para eles que os projetos colaborativos existem e que suas
audiências são cocriadoras de conteúdo e de experiências. Deuze (2006, p. 695) afirma que Jenkins usa a convergência
como um conceito “guarda-chuva” que inclui aspectos tecnológicos, culturais, econômicos e políticos. Bauman (apud
Deuze, 2006, p. 696) argumentou que nossa percepção de continuidade e aceleração da mudança não são mais
quebras na rotina, mas se tornaram a condição estrutural da vida contemporânea líquida: nós vivemos sob condições
de permanente evolução. E isso fatalmente inclui o nosso consumo e produção das informações.
Scoble et al. (2009, p. 4) chamam a emergente geração on-line, que nós aqui chamamos de usuários-mídia, de
“Gen O” que representa os argumentos mais convincentes para se transformar uma organização em uma “corporação
conversacional”
Um conceito que se relaciona ao de usuário-mídia é o de capital social. O conceito foi articulado por Pierre
Bordieu (1998, p. 67) que o definiu como “o conjunto de recursos atuais e potenciais que estão ligados à posse de uma
rede durável de relações mais ou menos institucionalizados de interconhecimento e inter-reconhecimento”. O termo
permite entender as motivações para comportamentos cooperativos e formas de integração social.
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