ebook_curadoria_digital_usp.pdf Curadoria Teste - May. 2014 | Page 56
que se tornou mídia.
No entanto, Keen (2009) faz um alerta de que público e autor estão se tornando uma coisa só e podemos estar
transformando nossa cultura em cacofonia. Ele se refere ao esvaziamento do papel dos especialistas e a emergência
dos palpiteiros da web que estão isentos de controle, fiscalização, abrindo-se um território livre para plágio, calúnia,
boataria e propaganda.
Ainda assim, apesar do conteúdo que pode ser considerado de baixa qualidade existente na internet, acreditamos
que o usuário-mídia, termo que cunhamos para designar o internauta comum que produz conteúdos e que tem voz
pelas ferramentas colaborativas e interativas da web, interfere na comunicação e na estratégia das organizações.
Prova disso é o estudo feito pela Edelman & Technorati (2006)21. Confiar em pessoas comuns como fonte de
informação dobrou nesta pesquisa. A justificativa atribuída pelo trabalho é o fato de amigos, família e funcionários
serem agora considerados os mais importantes e confiáveis porta-vozes, tendo duas vezes mais credibilidade do que
os presidentes. Richard Edelman (Edelman & Technorati, 2006) chama esse padrão de “rede de influência cruzada”.
Trata-se de uma rede dinâmica, de troca de informações entre o mundo real e o virtual na qual todos os participantes
demandam voz. Em outras palavras, aqueles que eram a base da pirâmide de influência, possuem agora uma variedade
de ferramentas que permitem compartilhar informações e opiniões on-line.
Jenkins (apud Deuze, 2006, p. 692) argumenta que a simbiose entre como as pessoas produzem e consomem
mídia pode ser vista como coexistente. As companhias de mídia estão aprendendo a acelerar o fluxo de conteúdo
para expandir as oportunidades de lucro, alcançar mercados de nicho e reforçar o compromisso com suas audiências.
Os consumidores, segundo Jenkins, usam diferentes mídias para ter mais controle e para interagir com outros
consumidores.
Com a emergência dos aplicativos da web 2.0, Jenkins (2006, p. 24) vê uma mudança de paradigma na forma
como o conteúdo é produzido e distribuído: “Audiências, fortalecidas por essas novas tecnologias, ocupando um
espaço na intersecção entre a velha e a nova mídia, estão demandando o direito de participar dentro da cultura”. E
essas audiências têm essa chance justamente pelas ferramentas quase sempre gratuitas da we b 2.0 que as permitem
produzir, compartilhar e distribuir conteúdos. O resultado é uma cultura participativa na qual o cidadão comum tem
a possibilidade de manejar tecnologias que antes eram privilégio das organizações capitalistas e que, segundo Jenkins
(Ibid., p. 215), ainda oferecem ao usuário a possibilidade de negociar seus relacionamentos com as companhias de
mídia.
21
“Public Relations: communications in the age of personal media”. Vide referências bibliográficas ao final
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