ebook_curadoria_digital_usp.pdf Curadoria Teste - May. 2014 | Page 55
com a emergência de sites que permitem que o consumidor crie conteúdos, as organizações mudaram a órbita de
seus interesses das atividades de consumo para as de produção, dando aos usuários mais poder sobre o conteúdo pela
adição de valor que isso traria aos negócios.
A pesquisadora Dijck (Ibid., p. 42) acredita que os usuários sejam referidos como os internautas ativos e contribuintes
da internet, aqueles que dedicam certo esforço criativo e o fazem fora de sua rotina ou atividade profissional. Termos
como produser e cocriadores acabaram por adentrar o cenário acadêmico para explicar o crescimento do poder de
geração de conteúdos dos internautas, segundo BRUNS (2007).
Benkler (2006, p. 126) classifica esse novo consumidor como sendo aquele usuário mais ativo e produtivo que os
consumidores da economia industrial da informação.
O Internet Advertising Bureau (IAB) afirma que a principal mudança promovida por esse usuário-mídia é a reação das
audiências em relação aos conteúdos, alterando a postura em relação à comunicação organizacional, aos conglomerados
de mídia e à forma de acessar a informação. Nesse sentido, aponta Montardo (2009, p. 5), o The Cluetrain Manifesto
postula 95 teses sobre como o mercado mudou em função da capacidade de conversação das pessoas na internet e
sobre como a comunicação também deve ser alterada por conta disso.
Chris Anderson (2006), autor de A Cauda Longa, classifica esse usuário-mídia como os novos formadores de
preferências por se expressarem nas mais variadas plataformas on-line e em sistemas de recomendação e influência.
Muniz Sodré (2006) defende uma teoria que define a mídia não como transmissora de informações, mas como
ambiência, como forma de vida, como um “bios midiático”. Nesse sentido, caracterizamos o usuário-mídia como
aquele que não apenas transmite informações, mas que por si transforma-se em um veículo de mídia, em meio, em
comunicação.
Barichello (2009, p. 347) utiliza a mesma noção de mídia de Muniz Sodré, que inclui tanto os meios quanto os
hipermeios (ou meios digitais) e que pode ser entendida como canalização e ambiência, estruturado com códigos
próprios.
Um autor que é avesso à produção de conteúdos por internautas é Keen (2009). Ele acredita que à medida que a
mídia convencional tradicional é substituída por uma “imprensa personalizada”, a internet torna-se um espelho de
nós mesmos e em vez de buscarmos notícias, informação ou cultura, passamos a utilizá-la para sermos de fato tudo
isso. Keen ainda chama as mídias sociais de “santuários para o culto da autotransmissão” e de “repositório de nossos
desejos e identidades individuais”. Apesar de crítico da internet (a internet, a seu ver, pode ser um acúmulo de tolices
produzidas por narcisistas ansiosos), as afirmativas acima só nos ajudam a demonstrar que de fato temos um usuário
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