A ROTA DO DRAGÃO
granítico que enverga equipamento militar de época clássica , misturando elementos de inspiração grega , como é o caso da lança e do escudo , com outros de época romana , como é o caso do saio de correias e as grevas ( a proteção das canelas ao topo dos joelhos ). Já o capacete aproximase de uma estética renascentista e nele sobressai um enorme dragão . A estátua desde logo parece ter suscitado a admiração dos portuenses que , muito rapidamente , a converteram também num elemento identificador e identitário da cidade . Ela passaria , com efeito , a aparecer associada de diversas formas ao Porto , incluindo , por exemplo , a sua adoção em logótipos de empresas , com destaque para o histórico Banco Comercial do Porto que , nascido em 1835 , foi uma das primeiras instituições financeiras a surgir em Portugal , vindo a desaparecer numa fusão , em 1938 , com o Banco Ferreira Alves . E por isso , e porque se converteu num símbolo da cidade , podemos recuar a associação “ institucional e simbólica ” do dragão ao Porto a esse momento em que essa estátua foi erguida sobre o edifício dos Paços do Concelho , em 1818 .
Ainda hoje não sabemos quem terá concebido o “ Porto ”. Seguramente alguém erudito e com formação artística , conhecedor de modelos renascentistas e clássicos que o terão inspirado , nomeadamente a famosa representação colossal ( 3,60 metros ) da estátua de Marte Vingador , do século I , encontrado no Fórum Nerva , em Roma . Alguns investigadores têm colocado a hipótese de o escultor João de Sousa Alão ser o autor do “ risco ” ou de uma maquete em barro . Mas é apenas uma hipótese . Certeza temos quanto a quem a esculpiu e produziu , com base na deliberação da vereação da Câmara datada de 19 de agosto de 1818 e de outra documentação posterior , através das quais sabemos que o trabalho foi adjudicado , executado e pago ao mestre pedreiro João da Silva , morador na freguesia de Pedroso . Independentemente da sua autoria , certo é que , bem lá no alto do edifício municipal , “ O Porto ” e o seu dragão converteram-se num ícone da cidade . E por isso , quando o palacete foi demolido quase cem anos depois , em 1916 , para se abrir a Avenida dos
75 REVISTA DRAGÕES FEVEREIRO 2022