Dragões #423 Fev 2022 | Page 74

A ROTA DO DRAGÃO

O DRAGÃO DO " PORTO "

Em 2022 assinala-se o centenário da adoção do brasão da cidade no emblema do FC Porto . Tal resultou de uma deliberação da assembleia geral do clube a 26 de outubro de 1922 . Uma decisão que perdura até aos dias de hoje . E porque o escudo da cidade , posteriormente alterado pela ditadura do Estado Novo , era então encimado por uma coroa com um “ dragão invicto ”, nascia assim a associação do clube a esta figura mitológica que , contudo , já andava ligada ao Porto há muito tempo . Mesmo antes de surgir nas armas da cidade . É o que lhe explicamos na Rota deste mês .
TEXTO : JOEL CLETO FOTOS : SÉRGIO JACQUES

Numa perspetiva “ oficial ” poder-se-á afirmar que o dragão se tornou um dos símbolos da cidade a partir do dia 14 de janeiro de 1837 . Foi nessa data que a rainha Maria II outorgou um novo brasão para o Porto , que contou , de resto , com o envolvimento de dois destacados liberais da cidade : Almeida Garrett , que redigiu o decreto , e Passos Manuel que , na qualidade de Ministro do Reino , o promulgou . A partir de então , e porque este escudo da cidade era encimado pela figura do dragão Invicto , a sua relação com o Porto passou a ser evidente . Em boa verdade , contudo , podemos fazer recuar algumas décadas a associação institucional e simbólica do dragão à cidade … Recuemos mais de duzentos anos . A 1818 . Ano em que a cidade passou a ter um novo edifício dos Paços do

Concelho , na Praça Nova das Hortas , atual Praça da Liberdade . O imóvel , que se localizava no lado norte desse terreiro , não foi construído de propósito para tal objetivo . De facto , tratava-se de um palacete que nascera , entre 1725 e 1731 , como residência da aristocrática família Monteiro Moreira , cujos descendentes o tinham vendido à Câmara Municipal em 1816 para que esta o adaptasse à “ casa municipal ” que há muito a cidade merecia possuir . Uma adaptação que passou , entre outras intervenções , por uma monumentalização simbólica da fachada , com a inclusão de uma grande pedra de armas com o brasão da cidade , mas também , bem no topo , de uma enorme estátua : uma alegoria do Porto , sob a forma de um guerreiro que simultaneamente representava o burgo mas também , lá do alto , o vigiava e protegia . Nascia assim “ O Porto ” - um imponente guerreiro
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