Dragões #422 Jan 2022 | Page 74

A ROTA DO DRAGÃO

O DRAGÃO MONUMENTAL

Há cem anos , a 19 de janeiro de 1922 , a Câmara Municipal do Porto autorizava o FC Porto a utilizar o brasão da cidade no seu emblema . Alguns meses depois , a 26 de outubro , o clube aprovaria em Assembleia Geral um novo distintivo : o mesmo que perdura até hoje e no qual , sobre uma bola azul , se destaca o escudo da cidade , encimado por uma coroa com um “ dragão invicto ”. Nascia assim a associação do clube a esta figura mitológica que , no entanto , e por fazer parte do brasão do Porto , povoava já muitos dos monumentos da cidade .
TEXTO : JOEL CLETO FOTOS : SÉRGIO JACQUES
Monumento a D . Pedro IV na Praça da Liberdade

A origem oficial do dragão como parte do símbolo da cidade remonta a 14 de janeiro de 1837 quando a rainha Maria II aprovou um novo brasão para o Porto . Estas novas armas , embora herdeiras de antigos signos da cidade , nomeadamente da figura central de Nossa Senhora da Vandoma , apresentavam um conjunto de novos elementos que vinham sublinhar o papel crucial que a cidade desempenhara na implantação do novo regime parlamentar e constitucional , nomeadamente ao espoletar a Revolução Liberal de 1820 e ao garantir o definitivo triunfo do liberalismo com o penoso e decisivo Cerco do Porto em 1832-33 . E por isso , no brasão , lá estava o colar da Ordem de Torre e Espada - a

mais alta condecoração do país , que a cidade recebeu na sequência destes acontecimentos . Mas também , no seu centro , o coração do rei liberal D . Pedro IV , que o monarca fez questão de oferecer à cidade na sequência da sua morte em 1834 . E , claro , a coroa ducal com o dragão ostentando a divisa “ Invicta ” – título que D . Pedro IV e a sua filha Maria II atribuíram ao Porto , recordando a resistência e a vitória da cidade no cerco a que os absolutistas a haviam submetido . A partir de então , e até ter sido modificado pela ditadura do Estado Novo mais de um século depois , em 1940 , foi este brasão que passou a ser representado em muitos dos monumentos e imóveis públicos do Porto . E por isso , ele e o seu dragão , estão por aí , espalhados um pouco por toda a cidade . Assim , e para lá
da sua utilização em edifícios que já abordamos em números anteriores da DRAGÕES , nomeadamente nos Paços do Concelho , no Coliseu do Porto ou nos Palácios da Justiça e da Bolsa , vejamos um conjunto significativo de outros exemplos . São várias as icónicas estátuas da Invicta que ostentam dragões associados ao velho brasão da cidade . Caso , em plena Praça da Liberdade , do monumento a D . Pedro IV cuja primeira pedra foi lançada a 9 de julho de 1862 , dia em que se assinalavam os 30 anos do início do Cerco do Porto . Concebido pelo escultor francês Célestin Anatole Calmels e inaugurado a 19 de outubro de 1866 , o monumento apresenta , sob a estátua equestre do monarca , um pedestal no qual se encontram representados dois dragões : um na
face voltada para sul , encimando as armas nacionais , e o outro , no lado oposto , integrando o brasão da cidade . Curiosamente , e apesar da forte ligação que o Porto possuía com aquele rei liberal que aqui esteve cercado durante um ano , antes ainda de lhe dedicar este monumento já a cidade erguera , poucos meses antes , um outro destinado a imortalizar o seu neto : o rei D . Pedro V . Falecido tragicamente ( 1861 ), com apenas 24 anos de idade e quando se encontrava no oitavo do seu reinado , Pedro foi o primeiro rei português nascido ( 1837 ) e educado no regime liberal tendo , ainda enquanto príncipe e já depois como monarca , desenvolvido uma relação próxima com o Porto , tendo visitado a cidade múltiplas vezes . O monumento que lhe é consagrado ,
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