Dragões #421 Dez 2021 | Page 75

A ROTA DO DRAGÃO
para pressionar a construção de um novo edifício da Alfândega e a decisão da edificação de um porto artificial em Leixões ou , mais tarde ainda , exigir a modernização do aeroporto de Pedras Rubras ou a atual contestação à política de voos da TAP para o Porto . Instalada desde a fundação nas ruínas do antigo Convento de São Francisco , que se vira significativamente arruinado pelos bombardeamentos do Cerco do Porto e por um dantesco incêndio na noite de 24 de julho de 1832 , cedo a Associação Comercial se empenharia em materializar e sublinhar todo o poder e influência desta burguesia portuense num edifício sede que , nascido dessas ruínas , se mostrasse imponente , qualificado e requintado . A autorização do governo é célere , até porque vem conciliar a instalação no local da Associação com o Tribunal do Comércio . Mas o processo vai ainda arrastar-se durante alguns anos , fruto de diversos estudos , propostas e porque , entretanto , a Associação fará evoluir as suas pretensões . De uma simples cedência das arruinadas estruturas solicita em 1840 , como contrapartida de “ salvar das ruínas um dos mais belos edifícios que adornam a cidade ”, a doação do terreno para aí criar
também a Bolsa Comercial do Porto . A proposta do Governo , nesse sentido , será aprovada pelas Cortes em 1841 e , a 6 de outubro do ano seguinte , era lançada a primeira pedra para a construção do Palácio .
Uma obra demorada , que se prolongará até aos inícios do século XX ( 1908 ), mas que fará emergir um dos mais icónicos imóveis da cidade . Ao longo do processo foram vários os arquitetos e engenheiros envolvidos na sua edificação , desde o projeto inicial de Joaquim Costa Lima , com evidentes influências do paladianismo inglês do século XVIII , como é notório na fachada principal , até intervenções finais de Marques da Silva , obedecendo já aos gostos da transição para o século XX . Comum a todo o período de construção é o cuidado e o requinte perseguido , seja no exterior , seja muito especialmente no ambicioso programa decorativo no interior a partir de 1860 e no qual , não raras vezes , emerge a figura do dragão . Com efeito , esta figura mitológica repete-se , dezenas de vezes , ao longo de todo o Palácio da Bolsa , convertendo-o ( com exceção do bem mais recente Museu do FC
Porto ) no edifício com mais dragões na cidade . Para tal concorre o facto de o símbolo da Associação Comercial do Porto resultar de uma adaptação das armas liberais da cidade . Embora dois dos quatro quarteis do escudo sejam distintos daquelas ( representando elementos simbólicos da atividade comercial e marítima ), todo o resto do brasão é semelhante ao do Porto , encimado , por isso , pela coroa ducal com o Dragão Invicto . E por isso são múltiplos os dragões existentes no palácio , porque são inúmeras as representações do símbolo da associação por todo o edifício . E nos mais diversos materiais . Desde as representações metálicas , nomeadamente em ferro e bronze , como podemos observar no gradeamento sobre a porta principal ou na placa que evoca os fundadores na escadaria nobre – uma das joias artísticas do palácio , concebida por Adolfo
Em cima As velhas armas da cidade do Porto encimadas pela figura do dragão , nos vidros decorados das janelas do Palácio da Justiça / Tribunal da
Relação do Porto .
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