Dragões #406 Set 2020 | Page 56

56 uma base, para marcarmos posição no topo da tabela junto dos tubarões, porque também fazemos parte desse lote. O Elverum e o Meshkov Brest não têm tanto nome nem tantos argumentos, mas não são equipas fáceis, aliás não há jogos fáceis na Liga dos Campeões. Nunca há vitórias por grandes margens, é o palco em que toda a gente quer estar, é o maior palco mundial de andebol. Saíram quatro jogadores que tinham peso significativo e chegaram cinco reforços com juventude e experiência. Sente que o plantel tem condições para dar seguimento aos êxitos a que habituou os adeptos nos últimos anos, em especial desde a chegada do Magnus Andersson? Antes de mais, quero deixar uma palavra de apreço aos jogadores que saíram, todos eles muito bons e com quem mantenho uma relação de amizade. Desejo-lhes toda a sorte pessoal e desportiva, salvo nos jogos contra o FC Porto. Os que vieram não ficam nada atrás. O Spath é um jogador muito experiente da Liga Alemã, um patrão da defesa. O Sliskovic já jogou uma final da Liga dos Campeões e o Mitrevski já esteve nas maiores provas, como Europeus e Mundiais. E temos ainda o Diogo Silva, que foi o melhor marcador do Mundial de Sub-21 em 2019, e o Tiago Sousa, que vai crescer muito connosco. Não haverá público nas bancadas em Portugal por razões sanitárias. Que influência poderá isso ter no terreno de jogo? É preciso fazer ver ao governo e às outras entidades que têm responsabilidade na matéria que o desporto é um espetáculo, tal como o cinema ou o teatro. As pessoas até vêm aos espetáculos desportivos com maior entusiasmo. Se os outros já reabriram com público, nós também temos todas as condições para fazê-lo. Há todas as garantias aqui no Dragão Arena. Os adeptos têm de facto um peso enorme nos jogos, sobretudo os adeptos do FC Porto, que são muito efusivos e percebem de andebol. Há muitos anos que veem andebol e acompanham os sucessos da equipa, percebem quando devem fazer pressão e quando devem galvanizar-nos. É um trabalho coletivo, as vitórias também se devem aos adeptos, por isso quanto mais cedo regressarem mais depressa voltamos à plenitude das nossas capacidades. Tem-se revelado um dos jogadores mais preponderantes nos últimos tempos, mas tem um trajeto profissional que já começou há vários anos. Como se cruzou com o andebol? Nasci em Coimbra, mas comecei por jogar andebol no São Bernardo, em Aveiro, para onde fui viver muito jovem. Os meus pais compraram uma casa perto do pavilhão do clube. A minha mãe é professora de Educação Física e sempre me incutiu a importância de fazer desporto. Na altura, até perguntou ao pai do Pedro Seabra, um grande amigo meu de Aveiro e jogador da seleção portuguesa (atualmente no Águas Santas), se havia algum clube na zona em que eu pudesse jogar. Há na região uma grande cultura de andebol e isso também contribuiu para a minha escolha. Há jogadores que desde cedo pensam logo em ser grandes craques do andebol, mas eu nunca fui assim. Sempre tive objetivos realistas e a longo prazo. Tive a noção de que poderia ser profissional de andebol quando surgiu a proposta do ABC. Estava no São Bernardo, um clube amador, e acabei por ir para Braga para ingressar num clube profissional que luta por todas as competições. Ao serviço do ABC conquistou três títulos nacionais e um europeu, despertando o interesse do FC Porto e transferindo-se para o Dragão Arena em 2017. Que fatores o atraíram? Foi um passo natural, porque queria exponenciar as minhas potencialidades. Quero ser o melhor jogador que conseguir ser. No final da carreira, quero olhar para trás e ter a certeza de que não poderia ter sido mais do que aquilo que fui. Dar tudo não depende de estar num dia bom ou mau. Há jogos em que as coisas nos saem bem e outros em que não saem tão bem, mas o empenho é inegociável. REVISTA DRAGÕES SETEMBRO 2020