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uma base, para marcarmos posição
no topo da tabela junto dos tubarões,
porque também fazemos parte
desse lote. O Elverum e o Meshkov
Brest não têm tanto nome nem
tantos argumentos, mas não são
equipas fáceis, aliás não há jogos
fáceis na Liga dos Campeões. Nunca
há vitórias por grandes margens, é o
palco em que toda a gente quer estar,
é o maior palco mundial de andebol.
Saíram quatro jogadores que
tinham peso significativo e
chegaram cinco reforços com
juventude e experiência. Sente
que o plantel tem condições
para dar seguimento aos êxitos
a que habituou os adeptos nos
últimos anos, em especial desde a
chegada do Magnus Andersson?
Antes de mais, quero deixar uma
palavra de apreço aos jogadores
que saíram, todos eles muito
bons e com quem mantenho uma
relação de amizade. Desejo-lhes
toda a sorte pessoal e desportiva,
salvo nos jogos contra o FC Porto.
Os que vieram não ficam nada
atrás. O Spath é um jogador muito
experiente da Liga Alemã, um
patrão da defesa. O Sliskovic já jogou
uma final da Liga dos Campeões e
o Mitrevski já esteve nas maiores
provas, como Europeus e Mundiais.
E temos ainda o Diogo Silva, que
foi o melhor marcador do Mundial
de Sub-21 em 2019, e o Tiago Sousa,
que vai crescer muito connosco.
Não haverá público nas
bancadas em Portugal por razões
sanitárias. Que influência poderá
isso ter no terreno de jogo?
É preciso fazer ver ao governo
e às outras entidades que têm
responsabilidade na matéria que
o desporto é um espetáculo, tal
como o cinema ou o teatro. As
pessoas até vêm aos espetáculos
desportivos com maior entusiasmo.
Se os outros já reabriram com
público, nós também temos todas
as condições para fazê-lo. Há todas
as garantias aqui no Dragão Arena.
Os adeptos têm de facto um peso
enorme nos jogos, sobretudo os
adeptos do FC Porto, que são muito
efusivos e percebem de andebol.
Há muitos anos que veem andebol
e acompanham os sucessos da
equipa, percebem quando devem
fazer pressão e quando devem
galvanizar-nos. É um trabalho
coletivo, as vitórias também se
devem aos adeptos, por isso quanto
mais cedo regressarem mais
depressa voltamos à plenitude
das nossas capacidades.
Tem-se revelado um dos
jogadores mais preponderantes
nos últimos tempos, mas tem
um trajeto profissional que já
começou há vários anos. Como
se cruzou com o andebol?
Nasci em Coimbra, mas comecei
por jogar andebol no São Bernardo,
em Aveiro, para onde fui viver muito
jovem. Os meus pais compraram
uma casa perto do pavilhão do
clube. A minha mãe é professora
de Educação Física e sempre me
incutiu a importância de fazer
desporto. Na altura, até perguntou
ao pai do Pedro Seabra, um grande
amigo meu de Aveiro e jogador da
seleção portuguesa (atualmente no
Águas Santas), se havia algum clube
na zona em que eu pudesse jogar.
Há na região uma grande cultura de
andebol e isso também contribuiu
para a minha escolha. Há jogadores
que desde cedo pensam logo em
ser grandes craques do andebol,
mas eu nunca fui assim. Sempre
tive objetivos realistas e a longo
prazo. Tive a noção de que poderia
ser profissional de andebol quando
surgiu a proposta do ABC. Estava
no São Bernardo, um clube amador,
e acabei por ir para Braga para
ingressar num clube profissional
que luta por todas as competições.
Ao serviço do ABC conquistou
três títulos nacionais e um
europeu, despertando o interesse
do FC Porto e transferindo-se
para o Dragão Arena em 2017.
Que fatores o atraíram?
Foi um passo natural, porque
queria exponenciar as minhas
potencialidades. Quero ser o melhor
jogador que conseguir ser. No final
da carreira, quero olhar para trás
e ter a certeza de que não poderia
ter sido mais do que aquilo que
fui. Dar tudo não depende de estar
num dia bom ou mau. Há jogos
em que as coisas nos saem bem e
outros em que não saem tão bem,
mas o empenho é inegociável.
REVISTA DRAGÕES SETEMBRO 2020