Dragões #406 Set 2020 | Page 55

55 A pandemia pôs fim a uma temporada em que o FC Porto estava pujante, tanto a nível nacional como além-fronteiras. O grupo já está, entretanto, concentrado nos novos desafios. Como foi feita a transição este ano, considerando as atuais circunstâncias tão incomuns? Estávamos, de facto, a fazer uma época muito boa, à semelhança da anterior e talvez a pudéssemos ter concluído ainda melhor. Tínhamos finalizado a fase regular do campeonato em primeiro lugar, também estávamos na Taça e na Liga dos Campeões poderíamos ter escrito uma história que em Portugal ainda ninguém escreveu, embora o ABC já tenha chegado a uma final desta competição noutro formato. Tínhamos uma excelente oportunidade, porque o Aalborg estava bastante ao nosso alcance, até podíamos assumir o favoritismo. A seguir íamos defrontar o Kiel, que é um tubarão do andebol mundial, mas os dois encontros que tínhamos disputado contra eles tinham sido muito equilibrados, com uma vitória tangencial nossa na casa deles e outra deles na nossa casa, e poderíamos ter chegado à final four. Tivemos também muita pena que não tivessem reconhecido o nosso trabalho internamente, até porque jogámos em casa e fora com todas as equipas e ficámos em primeiro lugar no campeonato, além de não termos sofrido qualquer derrota. Isso revoltou-nos naturalmente, mas esta época ainda estamos mais motivados para recuperar o campeonato que nos tiraram. O plantel já aprendeu a lidar com a nova realidade? Não é uma questão desportiva, é uma questão de sociedade. Toda a gente teve de se adaptar e nós também já o fizemos. Já estamos habituados ao regime de usar máscara nos espaços fechados antes e depois do treino, aos testes e ao distanciamento social. Até temos dois balneários, estamos sempre divididos. O FC Porto tem todas as condições para proteger a saúde dos atletas e para introduzir público de forma segura no pavilhão, já a partir do início do campeonato, o que será importantíssimo na nossa caminhada. Que avaliação faz do rendimento da equipa neste arranque de época? Está a correr bem, estamos a trabalhar muito duro e o plantel é muito forte. Temos dois jogadores muito capazes por cada posição e nalguns casos mais do que dois. Nem todos os resultados dos jogos particulares foram bons, mas é nos momentos decisivos que nós nos afirmamos. Esta preparação serve para ganharmos entrosamento e retirarmos lições para o futuro. Estamos fortes física e animicamente. A conquista do campeonato voltará a ser o principal objetivo? No FC Porto os objetivos são muito fáceis de gerir. No início de cada época, o melhor elogio que nos podem fazer é dar-nos a responsabilidade de ganhar todos os jogos e consequentemente todas as competições. O objetivo principal é ser campeão nacional, como em todos os anos, assegurando a vaga da Liga dos Campeões, depois queremos ganhar a Taça de Portugal, repetindo a dobradinha de 2018/19. E eu diria mesmo que se ganharmos seremos tricampeões, apesar de não nos terem concedido no papel o título da última época. Na Liga dos Campeões, a partir de uma certa fase não há favoritos e por isso encaramos a competição por etapas, queremos para já ultrapassar o grupo difícil em que estamos e depois é eliminatória a eliminatória, apontando sempre para a final four. Se o FC Porto vencer o campeonato esta época somará o 22.º troféu na principal competição nacional, o que seria um recorde. Isto dá-vos ainda mais motivação nesta frente? Sabemos que estamos a representar um clube histórico que apresenta a mesma identidade em todas as modalidades. Aliás, não é ao acaso que o FC Porto vai buscar jogadores, nem os da casa nem os que vêm de fora, todos eles têm certas características. É aquilo a que se chama um jogador à Porto. Não há melhor elogio do que ir na rua e dizerem-me que sou um jogador à Porto. No Norte não se quer ficar atrás em nada e, se só falta um para sermos a equipa com mais títulos no campeonato português, vamos atrás desse recorde. Temos jogadores para consegui-lo e temos um projeto de futuro, assente em jogadores jovens e outros mais experientes. É um projeto a longo prazo e, portanto, se não batermos esse recorde agora vamos batê-lo largamente nos anos futuros. Considerando a solidez que demonstraram na Liga dos Campeões ao longo da última campanha, a fasquia está agora mais elevada em termos internacionais? O ponto de viragem na mentalidade aconteceu na eliminatória contra o Magdeburgo, na época 2018/19. A partir daí percebemos que não éramos bons, mas muito bons, dos melhores do mundo. Ganhámos uma confiança enorme, passámos a acreditar que podíamos ganhar a qualquer equipa do mundo e fizemos uma grande EHF. A Liga dos Campeões este ano só foi surpresa para quem não tinha acompanhado o nosso percurso. Sabíamos que íamos fazer tombar alguns tubarões, embora fosse difícil ganhar a prova. A fasquia está altíssima e fomos nós que a colocámos lá. Agora temos de passar por cima dela. “No Norte não se quer ficar atrás em nada e, se só falta um para sermos a equipa com mais títulos no campeonato português, vamos atrás desse recorde.” Os dois primeiros jogos europeus são contra o Elverum e o Meshkov Brest, equipas das quais não se espera tanto como do Flensburg, PSG, Vardar ou Kielce. É por isso especialmente importante ter um começo afirmativo? Gosto de pensar que os chamados favoritos também olham para nós como uma equipa poderosa e que exige todas as cautelas. E de certeza que isso acontece. Temos de olhar é para nós próprios e já provámos que conseguimos ganhar a essas equipas. Já ganhámos ao Vardar e ao Kielce na época passada, por exemplo, e certamente vão ser excelentes jogos. Agora, claro que é importante vencer esses dois primeiros encontros para consolidar REVISTA DRAGÕES SETEMBRO 2020