Dragões #468 Nov 2025 | Page 54

FUTEBOL
NOVEMBRO 2025 REVISTA DRAGÕES
Quando comecei havia poucas equipas femininas e a maior parte das jogadoras começavam a jogar no meio dos rapazes. Agora já há imensas equipas femininas e a maior parte das raparigas já não começa em contextos mistos. Ainda assim, acho que já estava mais desenvolvido do que em Portugal.
O que a fez mudar para os Países Baixos aos 18 anos? Recebi uma proposta para assinar o meu primeiro contrato profissional e foi um sonho. Lembro-me que ainda estava no primeiro ano da licenciatura em Desporto quando recebi uma chamada do meu agente a dizer-me que tinha uma proposta. Fui logo falar com os meus professores para saber se podia ir viver o meu sonho.
Como correu a adaptação? Os meus pais acompanham-me para todo o lado. Fomos de carro para os Países Baixos e eles acompanharam-me no início, mas depois fiquei meio ano a viver lá sozinha. Foi uma experiência incrível, fartei-me de trabalhar e melhorei muito. Foi um momento de crescimento e senti que me estava a aproximar do profissionalismo.
Que tal a experiência no Twente? Nos Países Baixos os treinos eram muito mais intensos e comecei a perceber que a intensidade era um aspeto muito importante. Cheguei lá com a responsabilidade de substituir a antiga capitã, mas fui suplente. Eles precisavam de uma jogadora de peso, mas eu ainda era muito novinha e não tinha esse andamento. Ia tendo espaço enquanto suplente e ajudava a equipa da forma que conseguia.
Como lidou com isso? Foi um momento difícil, mas tinha consciência de que ainda era muito jovem e de que era muito complicado competir com jogadoras mais velhas e experientes. Encarei isso como um desafio e percebi que era uma boa altura para absorver todos os conhecimentos que as minhas colegas me podiam transmitir. Elas fizeram-me ver que o treinador só vai mudar de ideias se nós dermos o nosso máximo e tentarmos melhorar.
É mais adepta do futebol francês ou neerlandês? Diria que do francês. Foi por isso que ainda voltei a França antes de me mudar para Portugal.
Quando surgiu a oportunidade de vir para Portugal? Jogava na Segunda Divisão francesa, mas a competição parou em 2020 por causa da pandemia. Nessa altura já andava atenta ao futebol português, porque já tinha sido chamada à seleção e ficava frustrada por não conhecer a realidade do futebol feminino em Portugal. Comecei a sentir que tinha de vir jogar para aqui para absorver a cultura e aprender a língua, por isso nem hesitei quando recebi o convite do Torreense.
Quanto tempo demorou a aprender português? Um ano depois já toda a gente me entendia. Errava muito, mas fazia-me entender. É uma língua muito diferente, mas já estava habituada a ouvir os meus pais a falar e isso tornou tudo mais fácil. Fico triste por não ter aprendido mais cedo.
Que cenário encontrou? O futebol feminino ainda estava pouco desenvolvido, mas fiquei muito surpreendida pela velocidade com que se desenvolveu. Quando cheguei só havia três ou quatro clubes a apostar na secção e havia uma grande diferença no campeonato. Hoje já não funciona assim e senti que aqui o cenário muda muito rapidamente.
A adaptação ao futebol português foi fácil? Diria que sim, porque tenho algumas
“ Já tive temporadas em que me destaquei individualmente, mas em que o coletivo não conseguiu alcançar patamares tão elevados. No ano passado [ no Valadares Gaia ] atingimos grandes resultados, numa altura em que estava a ter um excelente rendimento a nível individual.”
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