FUTEBOL
NOVEMBRO 2025 REVISTA DRAGÕES características que até encaixam melhor no futebol português do que no francês. Gosto mais do estilo de jogo em Portugal.
Como foram os primeiros anos no Torreense? Cheguei num ano em que o clube tinha acabado de subir à Primeira Divisão e fui logo aposta. Havia poucas jogadoras com contrato profissional no plantel, tínhamos algumas brasileiras e uma canadiana, mas sentia um peso muito grande para dar o exemplo. O meu objetivo era mostrar a toda a gente o rigor que podemos colocar dentro e fora do campo para atingirmos o nível que queremos.
Como é que acabou no Valadares? Estava no Torreense há dois anos e meio e sentia que precisava de um novo desafio. Tinha voltado de uma lesão no ligamento cruzado e já só queria abraçar um novo modelo de jogo, mais intenso e duro, que me fizesse sentir uma jogadora mais completa.
Como se lida com uma lesão que pode ditar o afastamento dos relvados? Muito mal, inicialmente. Estava num bom momento, ia à seleção, era uma peça importante no clube, tínhamos resultados incríveis, estava tudo a correr bem, mas infelizmente tive de mudar o chip. Foi um processo e mentalizei-me de que ia recuperar. Vivi maus momentos, às vezes parecia que já estava a ver a luz ao fundo do túnel e depois tinha de dar um passo atrás novamente, mas acho que no geral lidei bem com o processo. Nessas fases, a cabeça é o mais importante e convencime de que ia conseguir recuperar.
Onde ia buscar forças? Os meus pais apanharam o avião e vieram o mais depressa possível para Portugal. Na altura, com a pandemia, não puderam ficar comigo no hospital, mas falávamos todos os dias e a equipa médica deixou-os entrar uma vez para me verem. Acho que a partir do momento em que sentimos que podemos ser forçadas a deixar de jogar, passamos a encarar as coisas de outra forma. Sinto uma força muito maior nos momentos difíceis, porque mesmo que as coisas não estejam a correr como eu quero, pelo menos a minha saúde permite-me estar em campo.
Em 2024 / 25 ficou em 5.º lugar na Liga BPI, chegou às meias-finais da Taça de Portugal e ganhou a Taça AF Porto. Foi a melhor época da sua carreira? Diria que sim. Já tive temporadas em que me destaquei individualmente, mas em que o coletivo não conseguiu alcançar patamares tão elevados. No ano passado atingimos grandes resultados, numa altura em que estava a ter um excelente rendimento a nível individual.
Uma temporada dessas abre muitas portas. Um clube da Segunda Divisão não parece um retrocesso? Já estava à espera desta oportunidade há muito tempo. O FC Porto ainda nem tinha equipa feminina e eu já andava a perguntar a toda a gente pelo clube. Quando finalmente recebi a proposta, nem queria acreditar. Fiquei tão feliz … o FC Porto é diferente de todos os outros clubes, porque quando começa um projeto vai mesmo até ao fim e aposta a sério.
Foi colega da Tatiana Beleza, Ema Gonçalves, Cláudia Lima e Cristina Ferreira no Valadares. Com quem falou primeiro antes de vir? Para ser honesta, não falei com ninguém. Fiquei à espera que me mandassem uma mensagem e não podia ter ficado mais feliz quando elas me disseram:“ Seguimos juntas”. Tiveram todas um papel muito importante na minha integração na equipa.
Alguma vez se imaginou a jogar no Dragão enquanto visitava o estádio? Nunca pensei que isso fosse possível, até porque o futebol feminino não costuma ter estas infraestruturas. Jogar aqui foi um sonho, foi mágico. Gostava de ter oportunidade de jogar no Dragão todos os fins de semana, talvez um dia cheguemos a esse patamar.
Como têm corrido estes primeiros tempos? Muito bem. Gosto de sentir que a atleta está no centro do processo e que todas as equipas estão interligadas em prol do rendimento da jogadora. Além da equipa técnica, temos uma equipa médica excecional sempre preocupada com o nosso bem-estar, desde os fisioterapeutas aos nutricionistas e aos psicólogos. No FC Porto temos todas as condições para crescermos, evoluirmos e atingirmos um patamar profissional.
Como tem sido trabalhar com o mister Daniel Chaves?
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