Dragões #468 Nov 2025 | Page 33

ENTRE LINHAS
NOVEMBRO 2025 REVISTA DRAGÕES
Salto em altura no relvado: Rodrigo Mora festeja a obra de arte que fechou a noite e abriu mais uma página de irreverência no Dragão.
FC PORTO 3-0 SINTRENSE
O conto de David e Golias ficou à porta do Dragão. Na quarta eliminatória da Taça de Portugal, o FC Porto tratou o Sintrense com toda a seriedade de um clássico: onze forte, linhas subidas, 74 % de posse de bola, 11 remates enquadrados e 19 cantos contra zero remates à baliza desferidos pelos visitantes. O 3-0 parece resultado de rotina, mas foi sobretudo a confirmação de uma equipa alérgica a surpresas e muito consciente de que estes jogos só são fáceis depois de ganhos. Borja Sainz desbloqueou o problema com a calma de quem sabe que“ todos os jogos são importantes” e que contra quem se fecha lá atrás é preciso insistir até a muralha ceder. O espanhol foi, outra vez, uma das caras do“ Spanish Oporto” que tem dado tanto que falar: abriu o marcador com um gesto de classe, sempre entre linhas, sempre a pedir bola, sempre a fazer o jogo respirar. Ao lado dele, Gabri Veiga voltou a ser farol, a encontrar espaços onde parecia não haver nada e a deixar a sua assinatura nas jogadas do 1-0 e do 3-0. E quando o Sintrense começou a perder referências, apareceu Deniz Gül em modo avançado moderno: entrou ao intervalo, encheu o último terço, ganhou duelos e fez o 2-0 de cabeça, prolongando no Dragão a boa forma que trouxe da seleção turca. Depois, foi a vez de Rodrigo Mora tratar o jogo como se fosse o recreio dele. Lançado para explorar o corredor esquerdo, acabou, claro, a decidir por dentro: receção orientada ao passe de Veiga, bola arranjada para o pé esquerdo e um arco perfeito para a baliza sul –“ Arrisquei e acho que foi um bom golo”, diria mais tarde, com a mesma desfaçatez com que antes confessara que“ não há golos feios”. É o terceiro da época para um miúdo de 18 anos que já marcou ao Braga e ao Estrela Vermelha e que parece determinado a provar, semana após semana, que o Dragão também é território de irreverência. No fim, ficou a sensação de missão cumprida e ciclo bem aberto. Farioli sublinhou“ a atitude e a mentalidade do grupo”, assumiu estar“ muito feliz por ter o Luuk de Jong de volta” depois de uma longa ausência e falou da importância de começar a sequência de quatro jogos em casa“ com a energia certa”, já com a cabeça na receção ao Nice. Rodrigo Mora lembrou que é bom ir à seleção, mas“ é sempre melhor voltar ao FC Porto e jogar no Estádio do Dragão”, enquanto Borja Sainz projetou as próximas semanas“ ao lado dos adeptos”, certo de que isso“ vai dar muita energia”.
FC PORTO 3-0 OGC NICE
Depois de um dia inteiro de trabalho e da pressa para chegar a horas, bastaram 18 segundos para acertar contas com a Europa. Nove jogadores alinhados na linha de meio-campo, Pepê e Alberto a rasgar o relvado, Varela a abrir o palco, Pepê a insistir e a assistir, e Gabri Veiga a rematar para o primeiro golo. Na centésima noite de Diogo Costa no Dragão, o capitão limitou-se a assistir à peça: o FC Porto entrou tão depressa em vantagem que o Nice ainda estava a procurar o botão de“ pause”. Quando o relógio mal tinha arrancado, a Liga Europa já se escrevia em galego. Gabri Veiga superou, por escassos décimos de segundo, o registo do golo mais rápido no Dragão e passou o resto da primeira parte a explicar ao Nice que não há VAR para travar confiança. Bis do 10 nas costas, Samu a estrear-se a marcar na prova de penálti e Dante a viver um verdadeiro inferno no Porto: 3-0 no marcador e muito mais na mensagem. Entre números redondos e metas traçadas a marcador indelével, o Dragão fez as contas sem calculadora: Diogo chegou às 100 presenças em casa, Eustáquio às 150 no meiocampo, Rodrigo Mora às 50 ainda em idade júnior e a equipa aos 10 pontos que valem zona de apuramento direto. Farioli fala em 15 como meta mínima, mas o essencial já se viu: com este compromisso, pouco importa o calendário que lhes atiram. O FC Porto trata de o reescrever dentro de campo.
Remate em galego, legendas dispensáveis.
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