NATAÇÃO
OUTUBRO 2025 REVISTA DRAGÕES desporto novo. Ainda assim, ele fez questão de que eu aparecesse no dia seguinte, uma sexta-feira à noite, e no sábado já estava a jogar, ainda sem saber as regras. Acabei por jogar durante sete anos e fui sete vezes campeão nacional.
Basta ser um grande nadador para ser um grande jogador de polo aquático? Não. Eu nadava bem e até chegava às bolas primeiro, mas depois elas fugiamme. Tenho a perfeita noção de que dava uma ajuda, como todos, mas não era um jogador extraordinário. Com o tempo acabei por entrar no esquema, mas a parte técnica era muito complicada.
Depois de tantos anos dentro de água, como é estar do lado de fora? Já estou habituado, comecei cedo ao lado da Teresa Figueiras. Conheço-a desde que tenho cinco anos e temos uma relação muito boa. Quando ela me convidou, aceitei em cinco segundos e foi tudo muito natural. Temos estado sempre lado a lado, especialmente quando é preciso, e é muito bom reencontrá-la no sítio onde tudo começou. Estamos a tentar incutir aos mais jovens a filosofia que tínhamos quando éramos atletas.
Qual é o papel de um treinador na natação?
Não basta planear e executar, também é muito importante explicar por que motivo é que estamos a trabalhar desta forma. Hoje em dia os atletas têm muitas dúvidas, porque há muita informação, e eles gostam de perceber tudo. Os jovens têm muitos estímulos, chegam aos treinos muito acelerados e é preciso explicar-lhes que têm de se concentrar e fazer as coisas com calma.
Como se convence um jovem a acordar todos os dias de madrugada para treinar? É cada vez mais difícil, mas tentamos incutir-lhes essa mentalidade porque sabemos que os vai ajudar muito no futuro. Já me cruzei com centenas de nadadores e todos dizem que a natação os ajudou na vida pessoal, porque nunca tiveram dificuldades em trabalhar em grupo, em cumprir prazos ou até em estar disponíveis fora de horas. A natação disciplina-nos e ensina-nos a gerir o nosso tempo. Apesar de tudo, acho que estes jovens de agora também percebem isso e têm a sorte de ter uma equipa multidisciplinar a ajudá-los.
Algum deles vive exclusivamente da natação? Há muito poucos atletas em Portugal a viver exclusivamente da natação, acho que se contam pelos dedos de uma mão, o que é uma pena, porque sabemos que em Espanha existem bolsas, apoios e patrocínios para ajudar os atletas. Para mim, a natação é o desporto mais bonito que há, mas reconheço que não é uma modalidade de que toda a gente gosta, ao contrário do futebol. Já tive discussões destas com diretores de jornais, que me dizem sempre que a natação não vende, mas ultimamente temos tido muito bons resultados e custa-me ver um campeão do mundo num canto da capa do jornal.
O que pode fazer para alterar esse cenário? Gostava de começar a ganhar muitos títulos, só assim é que podemos ter mais visibilidade. Só quem passa por isto é que sabe o quanto os atletas se esforçam e merecem receber o devido reconhecimento. Já sei que a natação não é para todos os gostos, até porque há provas muito demoradas, já estive ligado às águas abertas e então nessa vertente é que temos provas longas.
Como foi treinar a Angélica André? Dava-me um gosto enorme, porque as provas são muito imprevisíveis. Aliás, fui com ela aos Jogos Olímpicos de Tóquio e as provas foram espetaculares. Na piscina conseguimos prever o que vai acontecer, mas nas águas abertas os atletas tanto
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