Dragões #467 Out 2025 | Page 29

ENTRE LINHAS
OUTUBRO 2025 REVISTA DRAGÕES
Deniz Gül corre em direção aos adeptos depois de fazer o 2-1 aos 88 minutos, seguido por Alan
Varela e Jakub Kiwior: golo da reviravolta, golo da liderança.
MOREIRENSE 1-2 FC PORTO
O FC Porto não lidera a liga por acaso. Em Moreira de Cónegos, onde durante anos se escreveram noites armadilhadas para quem se apresenta de Cragão ao peito, a equipa não só sobreviveu ao golo fortuito que caiu do nada como manteve a bola, o plano e a cabeça. Sofreu num desvio em Bednarek, empatou com sangue-frio de Samu e ganhou aos 88’, quando já toda a gente em redor começava a falar em dois pontos perdidos. O detalhe é importante: quem mandou no jogo do primeiro ao último minuto foi o líder, mesmo quando o marcador dizia o contrário. Depois há este fenómeno delicioso que está a acontecer à frente de toda a gente e quase sem ruído: os miúdos e os novos não pedem licença, entram e decidem. Samu assume penáltis com a naturalidade de quem sempre os bateu, Gabri Veiga liga o meio-campo e arranca faltas à beira da área como se o relvado fosse dele, Rodrigo Mora sai do banco sem medo do contexto, acerta no ferro e marca cantos como quem assina coisas sérias. O FC Porto está a ganhar pontos e, ao mesmo tempo, a ganhar nomes. Isto não é comum em outubro.
E depois há Deniz Gül. O avançado entrou aos 73 minutos, apareceu onde tinha de aparecer aos 88’ e cabeceou para o 2-1 com aquela calma que irrita defesas e tranquiliza treinadores. Não foi um ressalto, não foi um acaso, não foi um balão: foi uma jogada de laboratório – canto de Mora, desvio de Kiwior ao primeiro poste, execução cirúrgica ao segundo. Gül saiu do banco para dizer que o jogo não ia acabar empatado e explicou por que razão este FC Porto continua isolado no topo: mesmo nos dias em que parece“ só” mais uma vitória suada fora de casa, há sempre alguém que escreve o final certo. Francesco Farioli saiu de Moreira de Cónegos a dizer duas coisas que soam a programa e manifesto: primeiro, que“ as equipas voltaram a temer o FC Porto”, porque já baixam o bloco e defendem dentro da própria área, o que“ é uma grande mensagem”; segundo, que ninguém se iluda com calendário e classificação, porque“ o processo não se faz em apenas 16 semanas de trabalho”. Traduzindo: há identidade competitiva, há resultados, mas o treinador fala como quem ainda está a construir.
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