FUTEBOL
JUNHO 2025 REVISTA DRAGÕES sido meu aluno e que acompanhei todo o percurso académico dele. Sabia que ele tinha experiência no futebol feminino e queria que fosse um homem com esse know-how, essa experiência e esse trajeto académico a liderar. Acompanhei o trabalho dele noutros clubes e sabia que ele apresentava um futebol positivo nas ideias, no modelo e na forma de jogar à Porto. As equipas dele põem em prática um jogo atrativo em que se tenta chegar à baliza, marcar golos e em que se ganha muitas vezes. Dentro deste perfil que traçámos, achámos que ele era a pessoa ideal. Não tenho problemas em admitir que ele foi o único treinador indicado por mim para liderar este projeto.
E na hora de montar o plantel, qual era o perfil que procuravam? O sentimento pelo clube foi uma das prioridades e posso garantir que 90 % das nossas atletas têm um sentimento à Porto. Também estávamos focados na competência e na forma como as atletas seriam capazes de lidar com tudo isto. Sabíamos que esta equipa ia ter muito impacto e as nossas jogadoras foram exímias na atitude, na humildade e na forma como incorporaram os valores e a identidade do clube.
Foi fácil convencê-las a trocar a Liga BPI por um projeto da terceira divisão? Houve alguns“ nãos” pelo caminho. Grande parte das jogadoras que aqui estão já eram portistas e quiseram vir porque sabiam que iam fazer parte da vanguarda e da história do futebol feminino no clube. Houve outras que não equacionaram essa realidade, mas não lhes guardamos rancor. Todas as jogadoras com qualidade, talento e que sejam portistas são bem-vindas, mas estarão obrigadas a ter a maior exigência e responsabilidade, porque sabem quais são os valores deste clube. Muitas das nossas jogadoras são sócias, assistem aos jogos e têm essa vivência do adepto, que é tão importante para o FC Porto.
Como lidou com a responsabilidade de liderar este projeto? Sempre disse que não era um expert na matéria do futebol feminino. Acredito que sou um expert do futebol e já liderei dois ou três projetos no feminino, mas encarei este desafio de uma forma muito positiva. Pensei e refleti muito, mas acabei por aceitar porque o FC Porto é o clube do meu coração. É um sentimento muito especial e foram tantas as vezes que vim ao estádio com o meu pai, que é sócio há mais de 50 anos... Vivo esta realidade desde muito cedo e nunca imaginei poder participar num projeto como este e fazer parte da estrutura do FC Porto, o clube do meu coração. Depois de uma conversa informal com o presidente, percebi que tinha a capacidade de transformar algumas destas ideias em futebol. Para isso foi preciso tomar decisões e ser ambicioso e é essa a mensagem que quero passar. Estamos focados em atingir o patamar do futebol profissional de uma forma correta, paciente, equilibrada e estruturada.
Chegar mais tarde obriga a pensar diferente? Vamos ter de queimar algumas etapas sem fugir do caminho que havíamos traçado. Queremos atingir a Liga BPI num período máximo de três anos. É um grande desafio para mim, mas isto não é trabalho de um homem só. Estamos a falar de um esforço de muita gente. Sabemos que vamos ter de queimar etapas, devido ao atraso em relação a algumas equipas que já têm vários anos de experiência no futebol feminino, mas isso serve-nos de desafio. Temos de pensar rápido. O futebol é um jogo de ideias e quem decide melhor é quem tem boas ideias. Queremos ter uma estrutura que pense o futebol feminino e que possa tentar colmatar esse atraso. Acredito que o vamos conseguir num prazo relativamente curto.
Como é que o FC Porto se pode diferenciar dos adversários? Estamos em constante contacto com alguns clubes que estão muito mais adiantados e há quem fique perplexo com a nossa dinâmica, porque nós colocamos a atleta no centro do processo. Temos departamentos de psicologia, de nutrição, de pedagogia, de performance e de
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