TEMA DE CAPA
MAIO 2025 REVISTA DRAGÕES
Moreirense. Passado cinco minutos liga-me o Jorge Costa e foi num abrir e fechar de olhos que se resolveu isto. A vontade era muita dos dois lados.
De quem foi a ideia de usar o número 2? Foi do senhor presidente. O número já estava escolhido e tiveram que imprimir camisolas novas porque eu ia ser o 93, mas quando o senhor presidente chegou à sala onde estávamos … Não sei se foi por olhar para o Jorge Costa, mas perguntou-me se eu queria ser o 2. Pensei“ o número 2 na equipa B … isto é muito pesado”. Senti logo essa responsabilidade boa e a imagem que eles queriam transmitir aos mais novos.
Também foi o número 2 do mister João Brandão durante a época? Sim, sim. O mister João Brandão fez um trabalho espetacular. Não foi um ano fácil para a equipa B do FC Porto, sofremos muito, houve muitas noites em que não dormi. Foi um ano importante, de filtro. Tínhamos um plantel muito longo, não quiseram pôr os jogadores a treinar à parte e o nível dos treinos nunca pode ser elevado com um plantel tão extenso. Estávamos a jogar com muitos juniores, não é uma crítica para os meus colegas, mas são jogadores que nunca tinham treinado num relvado natural durante um ano inteiro. Alguns fizeram-no pela primeira vez com a exigência da segunda liga, onde há equipas muito boas, e começámos a formar uma equipa com muito sofrimento. Os pontos nunca mais apareciam e merecíamos ter ganho vários jogos, precisávamos muito da primeira vitória e ela fugia-nos sempre. Começámos a entrar na parte de baixo da tabela e não é fácil sair dali. Era um plantel muito jovem, mas com muito querer, sofremos muito e nunca desistimos. Essa era a imagem das pessoas, achavam que nós já tínhamos descido há cinco meses, e aquilo doeu-me. Quem acompanhou o processo e as dificuldades que fomos tendo percebeu a evolução de alguns jogadores. Se eles continuarem assim podem vir a dar jogadores. Mas eu dizialhes muitas vezes que ser jogador é muito difícil e ser jogador do FC Porto ainda mais difícil é. Dizia-lhes para nunca se sentirem acomodados, porque isto tem que sair do corpo e dá muito trabalho.
Quantos é que podem vir a dar jogadores do FC Porto? É uma pergunta muito difícil, espero que alguns. Se me dissessem que três ou quatro podem chegar à primeira equipa, ficaria muito feliz, mas se chegarem dois a um nível muito alto eu já ficaria satisfeito.
As lágrimas que lhe escorreram pelo rosto no último jogo foram de orgulho ou tristeza? Foram de tristeza. Sou completamente apaixonado por aquilo que faço. Ou que fazia, ainda não sei falar dessa maneira. Não me lembro de mim sem ser jogador profissional de futebol. Sou profissional de futebol desde os 10 anos. Sempre tive muito cuidado com o corpo, mesmo durante as férias, e sempre vivi para isto. Acabou, tenho que me fazer de novo e tirar proveito de toda a experiência que fui ganhando ao longo dos anos. Naquele momento o sentimento foi de tristeza.
Como gostaria de ser lembrado pelos portistas? Pelo que já percebi vou ser lembrado exatamente como gostaria. Nunca pensei ter uma homenagem assim. Se me dissessem há um ano que ia ser homenageado no Estádio do Dragão e que as pessoas iam ter noção de quem eu sou … Queria acabar bem, tinha esse sonho, mas nunca pensei acabar em casa. Conseguiram ver a minha imagem real. Tentei responder ao maior número de pessoas e peço já desculpa a quem não respondi, tentei ler todas as mensagens e fui bombardeado de todos os lados. Até por jogadores que jogaram comigo um mês e disseram que fui uma das pessoas
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