Dragões #462 Mai 2025 | Page 18

“ Via-o treinar [ ao Lisandro López ] e pensava“ isto não é normal. A velocidade com que treinam, a intensidade, a darem o máximo em todos os lances … Não é treinar por treinar”.
TEMA DE CAPA
MAIO 2025 REVISTA DRAGÕES
Nessa altura já se sentia em casa nas Astúrias? Sentia-me bem, porque o clube é muito bom e as pessoas da cidade são todas do Sporting Gijón. Tem um estádio lindíssimo, as pessoas vivem para o clube e exigem que os jogadores deem tudo. A minha maneira de jogar era muito apreciada e tenho que deixar uma palavra ao senhor Preciado, um treinador que já faleceu, que tinha uma energia espetacular e sempre me disse:“ Aqui estás em casa. Aproveita porque as pessoas vão gostar de ti”. Temos sempre receio de ir para fora, ainda para mais em Espanha eles dão as primeiras oportunidades aos espanhóis e só depois aos estrangeiros, ao contrário do que acontece cá. Tive que dar muito ao chinelo para ter oportunidades e depois de ser titular nunca mais as larguei.
Como lidou com a descida de divisão? Foi uma descida limpa. Não jogámos pior do que podíamos, as outras equipas é que eram bem melhores. Na primeira época foi difícil mantermo-nos e na segunda saíram dois ou três jogadores e não nos reforçámos. No balneário já sabíamos que não ia ser fácil, porque as equipas tinham todas muita qualidade e o nível do nosso plantel não era o mais ajustado para uma primeira liga espanhola.
Voltou ao FC Porto, disputou 25 jogos e sagrou-se campeão nacional sem derrotas. Como se explica a desconfiança dos adeptos nessa altura? Na altura o nosso rival estava a fazer um grande campeonato e andámos sempre na luta, eles tinham uma excelente equipa e esse campeonato foi disputado até à última. Nós jogávamos bem e ganhávamos, mas houve jornadas em que eles perderam pontos e nós também. Isso origina um sentimento agridoce e cria aquela dúvida“ será que isto vai dar?”. Foi até à última, era uma equipa brutal. Lembro-me de chegar ao autocarro e ver o Lucho a chorar depois de perdermos em Málaga. Aquilo marcou-me, porque nós sentíamos que podíamos ter feito mais nas competições europeias. Tínhamos equipa para fazer um brilharete.
Viu o golo do Kelvin a partir do banco. O que sentiu ao minuto 92 do clássico em que o Estádio do Dragão tremeu? É o jogo de que mais me lembro. Não joguei, mas tenho muitas memórias. Foi muito difícil, tínhamos a responsabilidade de ganhar e as coisas estavam malparadas.
Parecia que não ia dar, mas aquele lance … Senti exatamente o mesmo do que todos os portistas que estavam no estádio. Foi uma explosão de alegria.
Lembra-se do pós-golo do Kelvin? Ainda faltava ganhar em Paços de Ferreira … Lembro-me perfeitamente de entrar em campo e dizer“ calma que isto ainda não está ganho!”. A euforia era tanta que parecia que tínhamos sido campeões naquele momento. Mas não fomos e era preciso ganhar um jogo muito difícil contra um Paços de Ferreira que estava a fazer um excelente campeonato. Lembro-me de tentar pôr água na fervura, mas aqui dentro sabia que não íamos perder mais a posição.
Alguma vez imaginou que o Vítor Pereira pudesse vir a estar entre os candidatos ao prémio de Melhor Treinador da liga inglesa em 2024 / 25? Sim, sem dúvida. Ele fez um trabalho fantástico como adjunto e como treinador principal, tem métodos muito bons e fico muito orgulhoso por ele conseguir isso, embora não me surpreenda. Ele sempre teve o sonho de chegar à liga inglesa.
Vítor Pereira saiu, Paulo Fonseca entrou e o Castro acabou emprestado ao Kasimpasa. Porquê? Vou ser sincero, como sempre. Fiz 25 jogos e fui o jogador mais utilizado a seguir aos onze titulares. Nessa altura foi vendido o João Moutinho e o Fernando e eu pensei“ na próxima época vou agarrar isto para ser titular”. Queria afirmar-me no FC Porto, era o meu maior sonho, mas os anos começam a passar. Era um dos jogadores com o salário mais baixo, mas não jogava no FC Porto por dinheiro. É muito importante dizer isto, porque eu seria titular por aquele dinheiro e isso ficou bem vincado. Recebi uma proposta para ir ganhar muito dinheiro para a Turquia e perguntei se contavam comigo para jogar. Foi assim que saí, emprestado com opção de compra. As coisas correram-me superbem na Turquia e lembro-me de, no fim de um jogo contra o Besiktas, o treinador deles, o Bilić, vir ter comigo e dizer-me“ não assines porque queremos que venhas para aqui no próximo ano”. O diretor desportivo do Kasimpasa ouviu e eles acionaram a cláusula nessa mesma semana.
Como reagiu a família quando lhes disse que ia para a Turquia?

“ Via-o treinar [ ao Lisandro López ] e pensava“ isto não é normal. A velocidade com que treinam, a intensidade, a darem o máximo em todos os lances … Não é treinar por treinar”.

Atravessei a rua, porque eu vivia ao lado do estádio, e foi um choque tremendo. Ninguém estava à espera, tínhamos acabado de casar e eu achava que ia ser o meu ano no FC Porto. Mas o futebol é assim, o tempo não espera por nós e temos que tomar decisões sendo egoístas. Queria ser útil dentro de campo. Chegado à Turquia foi muito bom.
Alguma vez imaginou ficar lá sete anos? Não, não. Pensei que ia ser só um ano e voltava logo para o FC Porto depois do empréstimo. Não foi possível, porque as coisas me correram bem e eles apostaram em mim. Fui uma forte aposta do Kasimpasa, que contratou jogadores incríveis: o Isaksson, que ainda é o guarda-redes com mais jogos na seleção sueca, o Ryan Babel, o Ryan Donk, o Ezequiel Scarione … Tínhamos uma equipa muito boa e fizemos um campeonato espetacular.
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