Dragões #462 Mai 2025 | Page 17

“ Os treinadores viam-me como um grande profissional e como um jogador que entendia a missão e a importância de dar tudo.”
TEMA DE CAPA
MAIO 2025 REVISTA DRAGÕES
No fim da época regressou a casa. Que tal o ambiente no balneário do Olival depois do campeonato perdido nos túneis? Havia um sentimento de revolta, muita qualidade, muito querer, o nível dos treinos e dos jogadores era brutal. Sentiuse uma energia logo desde o início, toda a gente queria muito e quando a qualidade acompanha esse querer … A maneira como jogávamos e chegávamos aos jogos permitia-nos entrar em piloto automático. Os jogos começavam de uma maneira em que se tornava tudo fácil.
Era impossível terem perdido a Supertaça contra o Benfica em Aveiro, não era? Era muito difícil. A máquina estava tão bem oleada e a energia era tão positiva que era muito difícil fazer frente a essa equipa em qualquer estádio. Nas competições europeias pensávamos“ vai dar ou não vai dar?”, depois íamos ultrapassando obstáculos e chegámos à final da Liga Europa.
Como era o presidente André Villas-Boas como treinador? No início da época ele chamou-me ao balneário e disse-me que eu ia fazer parte do grupo dos capitães. Estava a chegar do empréstimo ao Olhanense e já era um dos cinco capitães do FC Porto num plantel cheio de nomes ilustres. Senti uma grande responsabilidade e percebi o que ele queria. Era um comunicador nato, percebíamos exatamente o que ele pretendia dentro do campo e a exigência era enorme, mas havia uma leveza e uma onda positiva dentro do balneário. A energia vencedora era muito grande.
Já estava cedido ao Sporting Gijón quando os seus colegas ganharam tudo. Custou muito viver esses momentos à distância? Não custou e fiquei muito feliz, porque fui eu que pedi para sair em janeiro. Já tinha jogado pouco até aí e na segunda metade da época são os melhores jogadores que jogam mais tempo. Éramos sete médios, todos muitíssimo bons, e numa conversa com o senhor presidente, na altura mister, perguntei se ia ter oportunidades na segunda volta, porque ia ser muito difícil. Ele perguntou se eu tinha vontade de sair, eu disse que queria jogar e pesquisaram um clube bom para mim. Ter oportunidade de jogar na liga espanhola seria muito importante para o meu crescimento, e assim foi.

“ Os treinadores viam-me como um grande profissional e como um jogador que entendia a missão e a importância de dar tudo.”

Chegou a ser convocado por Paulo Bento para um Portugal 5-0 Luxemburgo no Estádio do Algarve, mas nunca saiu do banco. Foi difícil ver a estreia pela seleção fugir-lhe por entre os dedos? Custou-me muito. É uma das coisas que mais me custou. Fui convocado porque fiz parte da Equipa Jovem do Ano em Espanha e fiz uma meia época muito boa no Sporting Gijón. Por causa disso fui chamado à seleção e claro que tinha o sonho de me estrear. Custou-me muito não ter feito a estreia, o jogo estava decidido e lembro-me de estar a aquecer e de ouvir os meus colegas dizeremme para estar tranquilo porque ainda faltavam 15 minutos. Para eles já era um dado adquirido que eu ia entrar, por causa do resultado e tudo, e quando não entrei, pensei logo se voltaria a ter uma oportunidade igual. Não tive e claro que fiquei com este sentimento amargo.
Que tal a primeira experiência no estrangeiro? Mourinho, Guardiola, Ronaldo, Messi, Real Madrid, Barcelona …
Aquilo era outro andamento, não? Sem dúvida, até os jogadores das camadas jovens que vinham treinar connosco tinham um nível muito alto. Lembro-me de jogar contra o Athletic do Llorente, Javi Martínez, Ander Herrera … Eram equipas brutais e em todas as conferências de imprensa se falava do Mourinho contra o Guardiola e do Ronaldo contra o Messi. Era uma loucura e o meu primeiro jogo a titular foi logo contra o Barcelona. Tive que marcar o Messi, conseguimos empatar e foi espetacular. Aprendi muito, evoluí imenso e adorei jogar em Espanha.
Como são 90 minutos a marcar o Messi? É muito tempo. Mais valia ter jogado de sapatilhas, porque quase não toquei na bola. Tentei só ocupar os espaços certos e perceber onde é que ele queria receber a bola, mas pouco toquei nela, porque a qualidade deles é tanta … Nesse ano eu acho que o Barcelona era a melhor equipa de todos os tempos e dentro do campo sentia-se isso. A velocidade com que trocavam a bola era algo fora de série.
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