TEMA DE CAPA
MAIO 2025 REVISTA DRAGÕES
oportunidade de jogar num clube destes e de me mostrar” e quis aproveitá-la da melhor maneira. Foram dois anos espetaculares, porque fomos campeões da Segunda Liga e depois fizemos uma época muito boa na Primeira.
Já se identificava com o Jorge Costa nessa altura? Tínhamos uma relação muito boa, eu era o tipo de jogador de que ele gostava, porque dava tudo, nunca tive problemas disciplinares, nunca cheguei atrasado, sempre fui um jogador que treinava superbem, chegava sempre bem aos jogos e tinha um andamento muito grande. A equipa jogava bem, tínhamos um misto de jovens com alguns veteranos e formámos um grupo espetacular. Sempre senti que ele gostava de mim, criámos uma relação muito boa e sei que ele teve oportunidade de dar o salto nessa altura, mas não foi embora porque tinha levado muitos jogadores para Olhão e não queria abandoná-los. Sinto que ele prejudicou a carreira para não faltar à palavra connosco.
Entre esses jogadores estava o Ukra. Vocês eram quase inseparáveis … Sim, éramos inseparáveis e tínhamos jogado juntos desde os 15 ou 16 anos. Depois fomos emprestados ao mesmo tempo e vivíamos um à frente do outro. Ele já tinha uma filha pequenina e a porta do corredor ficava fechada, mas as portas das duas casas estavam sempre abertas. Vivíamos praticamente juntos. pelos meus colegas e por o FC Porto ser campeão, não orgulhoso pelo meu contributo, embora soubesse que treinava bem e ajudava no que podia ajudar. Um jogador que não joga ao fim de semana tem uma responsabilidade acrescida durante a semana, que é fazer com que os titulares treinem bem durante a semana.
Como reagiu quando soube que ia ser emprestado ao Olhanense? Nessa altura já tinha percebido que não ia jogar muito e que o melhor era sair para jogar. É muito importante uma pessoa nunca se acomodar, pôr-se à prova e conhecer outras realidades. Estava em casa, a jogar no FC Porto, o que poderia querer mais? Jogar no Olhanense? Alguns pensam que não, mas para mim era muito importante. Para poder evoluir tinha que jogar em algum lado e nunca tive medo. Na altura tinha pretendentes, porque tinha sido campeão de juniores antes de subir diretamente aos seniores, e o FC Porto achou melhor eu ir para o Olhanense. Recebi uma chamada do Jorge Costa, perguntei-lhe qual era o objetivo do clube e ele disse que comigo era para ser campeão. Pensei“ serei assim tão importante para um treinador me dizer isso, ainda para mais o Jorge Costa?”. Cheguei lá, encontrei um grupo de homens, um relvado até à cintura e condições bem diferentes das do FC Porto. Isso fez-me perceber que há grandes jogadores noutras equipas que não tiveram a sorte de chegar a outros patamares. Pensei“ tenho
Conte-nos algumas aventuras com ele. [ risos ] Há muitas que não posso contar, porque não, mas posso contar uma que demonstra quem é o Ukra. Na altura houve a gripe das aves e nós estávamos no mesmo quarto. Foi algo parecido com o covid-19 e previa-se que eu pudesse estar infetado, porque tínhamos jogado pela seleção em Inglaterra, eu estava mal e disse-lhe a meio da noite“ mano, pede para ir para outro quarto, se não …”. Ele respondeu“ achas?! Vou ficar aqui contigo e se precisares de alguma coisa diz que eu trato de ti”. Isto é o Ukra, uma pessoa que se preocupa mais com o bem-estar dos outros. As outras aventuras guardo para mim [ risos ].
Também apanharia gripe das aves para o ajudar? Completamente, sem dúvida. Por isso é que somos tão amigos.
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