Dragões #462 Mai 2025 | Page 15

TEMA DE CAPA
MAIO 2025 REVISTA DRAGÕES treinar como se fosse um jogo. Sentia-se o nível e a exigência. Era tudo posto à prova.
Quais eram as tradições desse plantel? Tinha que se cantar, dançar, ir buscar as botas e tudo o que eles se lembrassem. Tínhamos que estar disponíveis, eu era um bocado envergonhado, mas não tinha como não o fazer. O que eles achassem, eu fazia. Eu treinava bem e eles começaram a dar-me feedback positivo. Quando me diziam isso eu pensava“ caraças, eles estão atentos”. Lembro-me do Hélder Postiga dizer que se tivesse de escolher um jogador para treinar, esse jogador seria eu. O Jesualdo perguntava-me sempre se eu trazia as facas para o treino, porque mesmo sendo mais novo eu não tinha problema em dar umas pancadas, e conforme entrava no treino dos juniores também entrava no treino da equipa A.
Se tivesse que dar uma pancada no Lucho, também dava? Dava, dava.
E pedia desculpa? Pedia desculpa, como é óbvio. Nunca entraria com o intuito de o lesionar, só com o intuito de ganhar o lance, e nunca olhei a caras para tentar ganhar um lance. O meu objetivo era ser o melhor jogador em todos os treinos, destacarme e mostrar que conseguia fazer o que o treinador pedia. Jogar era uma missão praticamente impossível, porque o nível era muito alto para mim naquela altura.
Ainda se lembra do dia 2 de fevereiro de 2008? Sim, foi o jogo contra o Leiria, sei que foi por essa altura e claro que me lembro de entrar. Não me lembro de tudo, mas lembro-me da atenção dos meus colegas a quererem dar-me a bola para me sentir confortável com ela. Todos me deram a bola para eu me mostrar e aproveitar. Senti muito isso quando entrei.
Na equipa B retribuía a gentileza? Sim, sim. É muito importante fazer passar a responsabilidade e fazer o bem tem que compensar. Acredito muito nisso e por isso digo que o treino é muito importante. Um jogador relaxado nos treinos, para quem perder a bola é quase desporto, não pode representar este clube.
Aquela equipa estava recheada de craques. As pernas do Castro de 19 anos nunca tremeram? Tremeram, eu estava muito ansioso. Houve jogos, nas épocas seguintes, em que fui entrando e sou muito autocrítico. Sabia que estava ansioso, tinha que lutar contra isso e criticavame muito. Entrar mais calmo se calhar ter-me-ia ajudado, tentava aprender com isso para o jogo seguinte e refletir para tentar melhorar no próximo.
Acabar a época a festejar o título foi um sonho tornado realidade? Foi um sonho, sem dúvida, mas ao mesmo tempo tinha um espírito tão crítico comigo que nunca me senti verdadeiramente campeão. Nessa época só fiz dois jogos, por isso estava feliz
15