“ Sabia que não tinha nada a perder, estava a ser muito rápida e tinha um sonho que só podia concretizar ali. Tinha visto que o segundo lugar estava garantido, mas olhei para o ecrã e vi que a chinesa estava em esforço. Agarrei-me ao que já tinha sofrido e sabia que não tinha nada a perder.”
ESPECIAL 40 ANOS
ABRIL 2025 REVISTA DRAGÕES
“ Sabia que não tinha nada a perder, estava a ser muito rápida e tinha um sonho que só podia concretizar ali. Tinha visto que o segundo lugar estava garantido, mas olhei para o ecrã e vi que a chinesa estava em esforço. Agarrei-me ao que já tinha sofrido e sabia que não tinha nada a perder.”
Chegou a Portugal com o estatuto de campeã europeia, mundial e olímpica. Como foi recebida? Só vemos uma mobilização daquelas no futebol. Em 1995 já tinha passado por isso quando fui campeã mundial, então sabia que em 1996 ia haver ainda mais gente no aeroporto e assustei-me. Alterei a viagem para mais cedo e tentei chegar sem ninguém saber. Ser recebida pelos portugueses era uma alegria enorme, mas eu estava muito assustada. Demorei quatro horas a fazer 40 quilómetros até Penafiel. Havia tanta gente...
O que lhe diziam os portistas? Era a única campeã olímpica do clube. Sei que faço parte da história do FC Porto, mas nessa altura tinha o carinho do país todo. Acho que os portugueses já nem olhavam para mim como uma atleta do FC Porto, porque viam a bandeira, ouviam o hino e olhavam para mim como uma atleta portuguesa. Fui acarinhada por toda a gente.
O clube teve um papel importante nesta conquista? Claro que sim. Se não tivesse vindo para o FC Porto não teria as mesmas condições. Estive 20 anos no clube, quase todas as medalhas que tenho foram conquistadas quando estava no FC Porto e o clube foi sempre muito importante para mim. É um orgulho dizer que sou a primeira campeã olímpica do FC Porto. Vou ficar para sempre na história do clube.
Como reagiu ao ver que estava na capa da DRAGÕES? Na altura não tive a oportunidade de ver todas as capas, porque saíram muitos jornais e revistas, mas houve algumas notícias que me deixaram muito contente. Em 1996 senti que me deram o valor que eu merecia. Muitas vezes somos campeões e aparecemos num quadradinho pequenino na imprensa, mas nesse ano senti que me deram o valor que eu tinha. Ver que o meu clube me pôs na primeira página e disse que eu era a rainha do mundo é excelente.
Em 1999 teve um ano menos bom, mas ainda conseguiu recuperar a tempo de conquistar o bronze em Sydney. Soube a ouro? Foi um ano muito mau. Estava em boa forma, fui ao Campeonato do Mundo e não consegui correr. Naquele momento não consegui descobrir o motivo, porque não foi pela lesão. Lembro-me de vir para Portugal e de ficar sete dias sem sair de casa com vergonha. Deitei os sapatos de bicos fora e disse que nunca mais queria correr. Os meus colegas foram a minha casa e disseram-me que estava tudo bem. Voltei ao atletismo, mas não acreditava em mim. Sempre adorei competir, mas sentia medo da competição. Comecei a fazer testes na pista com os meus colegas a puxar por mim e fui aos Jogos Olímpicos. Correu tudo mal, fiquei doente e o meu treinador sugeriu que fizéssemos uma conferência de imprensa para informar que não ia competir, mas antes disso deu-me um conselho e eu decidi ir para a
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