ESPECIAL 40 ANOS
ABRIL 2025 REVISTA DRAGÕES como eu sempre gostei de fazer muitos quilómetros, comecei a treinar para os 10.000 metros. Em 1993 fui finalista no Campeonato do Mundo e, apesar de ter batido o recorde nacional dos 3.000 metros no ano seguinte e de ser candidata a campeã europeia, continuei a investir nos 10.000 e fui chamada a representar a Europa. Também fazia os 5.000 e cheguei a bater o recorde do mundo, mas gostava mais dos 10.000 metros.
Em 1994 sagra-se campeã europeia em Helsínquia e, um ano depois, já era campeã do mundo. Este estatuto permitiu-lhe sonhar com a medalha olímpica? Em 1995 venci uma das principais candidatas à medalha, mas eu tinha uma lesão no tendão de Aquiles. As pessoas achavam que a lesão era uma desculpa para quando as coisas corriam mal, mas não era. Agora já não faço atletismo e continuo a lidar com os mesmos problemas no tendão de Aquiles. Em abril de 1996 deram a minha carreira como terminada, mas eu consegui ser campeã olímpica em agosto. Cheguei a ter medo. Estava em grande forma nos treinos, os meus colegas de seleção sabiam disso, mas tinha consciência de que o tendão podia arruinar o meu sonho a qualquer momento. Nessa altura tínhamos de fazer duas provas de 10.000 metros e, para mim, era muito complicado correr duas vezes por causa das dores. Fui campeã olímpica e ainda dei a volta de honra, porque quando se ganha as dores passam, mas depois já não cheguei à aldeia olímpica pelo meu pé. As dores eram insuportáveis.
Nunca deixou que esse diagnóstico a afastasse de Atlanta?
A notícia afetou-me muito. Estava a fazer um estágio em Manaus, uma cidade muito quente e húmida como Atlanta, e chorei muito quando o médico me disse que tinha de acabar a carreira. Lembro-me de vir a chorar na viagem de regresso do Brasil para Portugal. Achei mesmo que tinha acabado ali, apesar de ter uma equipa médica a dizer-me que vinha para o Norte para me acompanhar. Nessa altura trabalhava com o Rodolfo Moura, que colaborava com o FC Porto, e lembro-me de o ir informar que já não podia correr mais. No momento em que lhe contei isto ele disse-me que eu ainda ia ser campeã olímpica. Isso mudou o meu pensamento, porque eu confiava muito nele. Deixei de ter domingos ou feriados, estava sempre em tratamento, ele ajudoume muito e eu fui acreditando.
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